Práticas da Cultura na Raia do Baixo Alentejo. Utopias, criatividade e formas de resistência

O trabalho de investigação que originou o livro Práticas da cultura na raia do Baixo-Alentejo. Utopias, criatividade e formas de resistência, deveu-se à bolsa de pós-doutoramento em Estudos Artísticos, da Fundação para a Ciência e a Tecnologia, atribuída ao projecto “A cultura expressiva na fronteira luso-espanhola: continuidade histórica e processos de transformação socioculturais, agentes e repertórios na construção de identidades”, com orientação científica da etnomusicóloga Salwa Castelo-Branco (Universidade Nova de Lisboa) e do politólogo Heriberto Cairo (Universidade Complutense de Madrid). Do trabalho de campo desenvolvido de forma descontinuada, entre 2013 e 2019, nos municípios de Moura, Barrancos, Serpa e Mértola, resultou num conjunto significativo de registos audiovisuais: (https://www.youtube.com/channel/UCAHMEXdMhzMmlHc_3dT2C1w/videos?view=0&sort=dd&flow=grid)  

O objectivo central do livro é compreender as práticas da cultura, na tensão progressiva entre a política de possibilidades dos agentes locais, empenhados na valorização e salvaguarda dos bens culturais das suas comunidades, e o projecto político neoliberal de mercantilização de tudo, que determina e condiciona a futuro das sociedades. A obra, dividida em seis capítulos, parte das inquietações do presente para interrogar as relações entre a história, a memória, o património e as práticas culturais que ao longo do tempo conformaram a identidade cultural desta região, a que o canto polifónico alentejano deu voz (cap. 1). Neste sentido, detém-se no processo de folclorização do canto polifónico alentejano, centrada nas relações de poder entre instituições, eruditos e praticantes, a partir do cruzamento de fontes orais e documentais (cap.2).  No sentido de contribuir para o Plano de Salvaguarda do Cante Alentejano atribui visibilidade aos grupos corais e autores mais emblemáticos de Barrancos, inserindo-os em contextos políticos e sociais concretos (cap. 3). No cap. 4 debruça-se sobre as transformações da sociedade rural desde a Revolução de Abril até ao presente, entrelaçando as políticas de salvaguarda do património cultural com o movimento coral alentejano, as assimetrias entre os actores emergentes no processo de patrimonialização e pós-patrimonialização do Cante e as práticas desenvolvidas por diversos agentes locais (cap. 4). No cap. 5, questiona os processos de produção e transmissão de imaginários culturais, a partir de um conjunto de festas que reforçam o sentido do comum e estimulam a criatividade social, para além de contribuírem para o desenvolvimento económico e humano das sociedades rurais.

ÍNDICE

Notas & Agradecimentos

Prefácio de Salwa Castelo-Branco

1. Introdução a um passado presente, em modo de alegoria

1.1. O Alentejo da Margem Esquerda em projecto.

1.2. Tu cantas à espanhola e também à alentejana.

2. O canto polifónico alentejano: experiências e expectativas

2.1. O Estado Novo: dominação e propaganda pelo folclore.

2.2. As Casas do Povo: doutrinação ideológica e resistência política.

2.3. A “educação para o povo”, na domesticação dos corpos e das mentes.

3. A institucionalização dos grupos corais e a promoção do Alentejo

3.1. A formação do grupo coral da Casa do Povo de Barrancos.

3.2. O imaginário cultural de António Xarrama Rodrigues (Cumbreño).

3.3. Os universos musicais de Manuel Torrado Marcelo (Chicuelo).

4. A Revolução de Abril e os horizontes de esperança

4.1. A contra-Reforma Agrária e a politização dos grupos corais.

4.2. O canto no feminino: formas de sociabilidade e de emancipação social.

4.3. O Património Cultural Imaterial e a mercantilização da cultura.

5. As festas, as músicas e os imaginários culturais

5.1. O ciclo festivo em Barrancos, entre o passado e o futuro.

5.2. Os imaginários do flamenco: para buscar al duende no hay mapa.

5.3. As Estudantinas da Amareleja, na “sociedade do espectáculo”.

5.4. Dicen las sevillanas que San Isidro es novio de la Virgen de las Paces.

5.5. O tamborileiro faz falta, é o anúncio da Festa!

5.6. Encontros de culturas em Serpa e Mértola: utopias e formas de reinventar o mundo.

6. Algumas considerações sobre a cultura de uma região em projecto

Posfácio de Heriberto Cairo

Referências bibliográficas

Anexos

https://www.edi-colibri.pt/Detalhes.aspx?ItemID=2630

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