Expressões simbólicas de resignificação da fronteira nas festas patronais de Vila Verde de Ficalho e Rosal de la Frontera

A fronteira luso-espanhola representa hoje um espaço recriado pela nova “mitologia turística”, e pelos fluxos de pessoas (turistas e excursionistas) que a transformaram num lugar de diversão e lazer (Cairo et al, 2018). Desde o Tratado de Maastricht (1992) que o turismo foi oficialmente reconhecido como um dos eixos de desenvolvimento nas periferias rurais da Europa, vinculado à promoção de uma consciência regional que refletiria a ambição de promover a integração através das fronteiras internas da União Europeia (Prokkola, 2007: 124). As populações fronteiriças vivem um tempo de novas modalidades relacionais e de “revitalização festiva” (Boissevain, 1992) com “invenções de tradições” (Hobsbawm e Ranger, 1983) por parte dos municípios e agentes culturais, que tentam resistir ao fenómeno ilustrado pelos diagnósticos socioeconómicos da União Europeia que apontam para o envelhecimento e desertificação do território. Em contextos festivos as povoações fronteiriças são ciclicamente reativadas e resignificadas, principalmente em festas patronais representativas de uma “herança cultural” preservada, misturada na atualidade com as transformações sociais que a acompanham. As festas patronais refletem ainda, as construções simbólicas socialmente estabelecidas e partilhadas pelos membros das comunidades, representativas de uma “teia de significados” (Geetz, 1973) que entrelaça maneiras de pensar, sentir, festejar e imaginar o mundo.

As sequências rituais encontradas nas festas patronais das vilas raianas de Vila Verde de Ficalho (Baixo Alentejo – Portugal) e Rosal de la Frontera (Huelva – Espanha) servem para questionar as expressões simbólicas de resignificação da fronteira, associadas à construção de “lugares antropológicos” (Augé, 1992) com significados identitários, relacionais e históricos. A resignificação dos lugares só pode ser entendida no contexto festivo, no sentido em que deixam de estar relacionados com a vida ordinária e quotidiana das populações, para se tornarem atributo de entidades religiosas, insígnias de identidades e significantes de relacionamentos e compromissos interpessoais específicos. Os sentidos dos lugares obedecem a sequências rituais mediadas pelos Santos, que destacam o lugar da fronteira e as relações de vizinhança construídas no tempo longo. Nestes lugares convergem atividades religiosas e lúdicas que reforçam a partilha do que é comum às comunidades: como a cerimónia do recebimento na fronteira, o desfile pelas ruas das vilas; os atos devocionais; a saída ao campo; o caminho; a comensalidade; a liturgia; a procissão; a música e o baile. É ao nível do recorte sensível do que é comum às comunidades, nas suas formas de visibilidade e organização que se coloca a questão da construção dos lugares na relação entre as pessoas, os Santos e a música, como cristalização dos desejos, das esperança e dos imaginários partilhados.

As mulheres e os homens que inventam o mundo

A festa da Senhora das Pazes é organizada por uma Comissão composta por pessoas de diferentes géneros, idades e condição social, nomeados pelos festeiros cessantes, no ultimo dia da festa. A lista de nomeados ascende a mais de uma centena de pessoas, que podem aceitar ou recusar a passagem do testemunho. Numa primeira reunião fazem o balanço da festa anterior, mas discutem principalmente o que pode ser melhorado, porque cada Comissão aspira sempre à melhor festa. Numa ampla assembleia de iguais apresentam-se ideias e distribuem-se tarefas em função das experiências e competências formais e informais de cada um. A Comissão dispõe ainda de instalações, graciosamente cedidas pela Junta de Freguesia, para reuniões e organização de eventos ao longo do ano. A Romería de San Isidro é organizada por um grupo de vinte pessoas de diferentes géneros e idades membros da Hermandad, uma associação formalmente estruturada e hierarquizada com personalidade jurídica, cujo regime de sucessão hereditário foi substituído pela votação pública de listas, apresentadas por grupos de amigos, de quatro em quatro anos. O presidente e os membros da Hermandad são laicos outorgados pelas autoridades eclesiásticas a darem culto à imagem de San Isidro na capela paroquial e na ermida. Para a organização de festas e espetáculos ao longo do ano possuem bens patrimoniais na vila, para além da Casa da Hermandad junto à ermida no campo, destinada a acolher os participantes da festa. Em ambos os casos a maioria dos organizadores não residem em Ficalho nem em Rosal, trabalham e estudam nas cidades mais próximas, ou nas capitais dos respetivos países e outros estão emigrados em países europeus. Mas a distância não os impede de participar e contribuir para as respetivas festas, com os seus saberes e redes de conhecimento. Aos fins-de-semana ou nos períodos de férias anuais, em função da disponibilidade de cada um, colaboram ativamente na organização, na angariação de fundos e durante as festividades  Estes coletivos asseguram a continuidade de uma tradição religiosa-popular, por meio da partilha de experiências, materializadas em diversas iniciativas realizadas ao longo do ano, que permitem custear a contratação de agrupamentos musicais e do fogo-de-artifício que animam e prestigiam as festas.

Comissão de Festas de Ficalho, 2014.

Hermandad de San Isidro, 2014.

A eficácia simbólica dos Santos unificadores

O culto à Senhora das Pazes conta-nos uma história convertida em Lenda, que em tempos remotos, num confronto militar entre portugueses e espanhóis pela defesa das suas fronteiras, surgiu um vulto entre os soldados de ambos os lados, reconhecido como uma visão da Virgem. Daí nasceu a nomeação da Senhora das Pazes, no sentido da reconciliação, de estar em Paz com. Nesse lugar, junto ao rio Chança, que delimita a fronteira luso-espanhola, foi construída no séc. XVI uma ermida, que se transformou num lugar de culto e peregrinação de portugueses e espanhóis. A institucionalização da romaria no séc. XVIII deveu-se à intervenção da 2ª Condessa de Ficalho em pagamento de uma promessa, na sequência de uma contenda entre os seus filhos e os fidalgos de Aroche (Huelva). A Lenda cristalizou-se num mito unificador das comunidades raianas, ciclicamente renovado por meio de rituais, símbolos e expressões musicais.

A romaria de San Isidro foi criada em 1942 pelo pároco de Rosal de la Frontera, para unificar uma comunidade rural profundamente fraturada pelas consequências da repressão franquista durante e após a guerra civil espanhola. O culto popular ao Santo madrileno remonta historicamente aos finais do séc. XII, apesar da beatificação e reconhecimento institucional só ter ocorrido no séc. XVII. San Isidro foi um símbolo religioso útil ao poder municipal de Madrid para cimentar a imagem da nova capital do Império Hispânico, que albergava a corte, para além de um grupo heterogénico de habitantes e forasteiros, muçulmanos e cristãos. A construção social e institucional do Santo, a partir do séc. XVI, como humilde lavrador, nascido numa família de cristãos mozárabes, devoto, solidário e milagreiro, redundou numa aparente coesão religiosa, útil a um poder interessado em consolidar a coesão social (Zozaya Montes, 2011: 12).

Procissão no campo à Senhora das Pazes, 2014.

Procissão no campo a San Isidro, 2014.

  Resignificação simbólica dos lugares no cerimonial de recebimento

O lugar designado por “Azinheira dos Guiões”, situado no limite da vila de Ficalho junto à estrada internacional, representa um lugar com significado. A azinheira centenária que o nomeou já não existe, excepto na memória coletiva, o espaço envolvente é hoje ocupado por um posto de gasolina e um restaurante com parque de estacionamento, que preenchem as necessidades da vida quotidiana das populações. No contexto festivo, este lugar liminar adquire significado identitário e relacional, por meio do cerimonial de recebimento da Comissão de Festas de Ficalho aos grupos de festeiros e respetivos guiões das povoações vizinhas, convidados para a festa. Por meio de um ritual em que os guiões se tocam, trocam-se gestos e sentimentos fraternos, canta-se e renovam-se as relações de vizinhança. A Hermandad de San Isidro retribui o recebimento no “lugar da aduana”, que marca o limite da vila e recorda o poder do Estado na fronteira. A aduaneira foi desativada com a abertura das fronteiras, e o espaço reabilitado como posto de controlo da Policia de Transito. No contexto festivo representa o lugar da troca e da partilha de sentimentos de pertença comunal entre populações fronteiriças.

Azinheira dos Guiões, V.V. de Ficalho, 2014

Lugar da aduana, Rosal de la Frontera 2014.

Ritual de agregação no espaço das comunidades 

Ao cerimonial de boas vindas segue-se o desfile dos grupos de festeiros, com os seus pendões, insígnias e estandartes pelas ruas das vilas. Em Ficalho o cortejo foi encabeçado pelo grupo de bombos de Vila Nova de São Bento que anuncia a chegada dos convidados, seguidos da Fanfarra dos Bombeiros Voluntários de Reguengos, dos membros da Comissão de Festas com o guião da Senhora das Pazes e São Jorge, dos festeiros convidados e por ultimo a Banda Filarmónica de Serpa. Alguns residentes assomam-se às portas ou janelas para assistirem ao desfile, outros juntam-se aos participantes até ao largo da Igreja Matriz. O percurso pelas ruas da vila integra simbolicamente os vizinhos no espaço da comunidade, onde são saudados e recebidos pelas autoridades e associações locais, em lugares com significado político e social.

Em Rosal de la Frontera o desfile até à Igreja Matriz do Rosal é encabeçado por um grupo de tamborileiros, seguidos dos membros da Hermandad com o guião de San Isidro e seus estandartes, e dos representantes da Comissão de Festas de Ficalho com o seu guião. Ao longo do percurso os santos são saudados fervorosamente pela população, que se junta ao cortejo cantando ao som de pandeiretas e tambores, numa manifestação coletiva de exaltação festiva, que mistura sentimentos e emoções expressas na letra de uma canção popular espanhola.

(…)

Hay un pueblo madre que Rosal se llama

Tiene a San Isidro como su patrón

Él es deseado en su romería

Allá le acogimos llenos de ilusión.

Qué bonito cuando llega

La vecina Portugal

Con su Virgen de las Paces

Como signo de amistad.

Consejero San Isidro

El cónsul de la amistad

De sentirnos tan unidos

Como rosas de un Rosal.

(autoria da Hermand de San Isidro, 2014)

Lugares liminares de religiosidade popular: as ermidas

As ermidas no campo, situadas na periferia do espaço comunitário das vilas, são lugares alternativos ao universo sagrado, representativos de uma religiosidade popular não institucional. Em torno das ermitas expressam-se crenças e sentimentos, por meio de atos de devoção, trocas de promessas e oferendas aos Santos. E ao longo do caminho até às ermidas, na missa campal e nas procissões os santos são aclamados e evocados em canções populares.

Moda da Senhora das Pazes

(…)

Vestida de branco

Milagres que fazes

De negro o teu manto

Que eu adoro tanto

Senhora das Pazes.

 

Lá na sua ermida

Lá no meio do campo

O povo delira

Ao ver-te tão gira

vestida de branco.

(autoria de Maria Rosa Campaniço, do Grupo coral feminino “Flores do Chança” de Vila Verde de Ficalho).

Ermida da Senhora das Pazes, 2014.

Ermida de San Isidro, 2014.

Lugares de troca e de partilha: “misturam-se as vidas, misturam-se as coisas”

As romarias, como outros tipos de festas, desempenham funções religiosas e lúdicas, mas também cívicas e políticas que suscitam sentimentos de pertença e de identidade grupal, local e nacional (Homobono Martínez 2012: 43). Os ritos e os símbolos que constituem os enunciados de ambas as romarias não variam significativamente em ambos os lados da fronteira. O recebimento, os atos devocionais, a saída ao campo, o caminho, a comensalidade, a liturgia, a procissão, a música e o baile obedecem a sequências rituais comuns. Cada sequência ritual representa um evento integrado e padronizado de um sistema de interações sociais, cujo significado não pode ser entendido ou analisado separadamente das restantes componentes do sistema cultural. Trata-se, principalmente de misturas, como nos ensinou Marcel Mauss (2001). Misturam-se as almas nas coisas, misturam-se as coisas nas almas, misturam-se as vidas, e as pessoas e as coisas misturadas saem cada qual de sua esfera e misturam-se. Esta mistura, como principio regulador da troca e da partilha, é expressada pelos participantes nos seguintes termos:

“(…) Este ritual de Santo Isidro com Nª Senhora das Pazes é único, é difícil de explicar, porque ali não há idades, não há raças, não há nacionalidades, há uma entrega, uma dedicação, uma união” (Lita,  Comissão de Festas, Abril de 2014).

“(…) Es una cosa que me movió desde chiquitita. Dicen las sevillanas que San Isidro es novio de la Virgen de las Paces (riso) enamorado de la Virgen de las Paces. Es un encuentro entre dos países,  y una amistad bonita entre dos países, entre Rosal e Ficalho  (Glória Charca, natural de Rosal, Maio de 2014).

“(…) Es una relación transfronteriza muy bonita, algo nuevo que antiguamente y históricamente no se sentía, era todo lo contrario, era bélico, y ahora es Paz, amistad y armonía (Juan António Fuentes, natural de Huelva, Maio de 2014).

“(…) Acho que não há fronteiras, acho que há uma ligação muito humana, tem a ver com a Humanidade, isto devia reverter era para tudo, não haver guerras, diferenças, distinções de raças” (João, Comissão de Festas, Abril de 2014).

“Es una manera de unir dos pueblos, tenemos hablas distintas, pero vivimos la fiesta igual” (Maria Isabel García, natural de Rosal, Maio de 2014).

Romaria da Senhora das Pazes, 2014.

Romaria de San Isidro, 2014.

 Representações sociais das festas e seus rituais

No tempo ordinário da vida quotidiana o sentido de lugar funciona pela agregação de pessoas que constroem e articulam referentes identitários em termos de pertença a um lugar particular, estabelecido mediante a oposição a outros lugares representados como alheios. No tempo excecional festivo o sentido de lugar dilata-se para integrar elementos simbólicos de grupos distintivos num coletivo unificador. A resignificação dos lugares, idealizados, reinventados e atualizados, permanecem “afetivamente” ligados à memória coletiva, como herança cultural de comunidades rurais e raianas. As representações sociais das festas e seus rituais, combinam dialeticamente a resistência ativa de afrontamento ao Estado e à Igreja, “nos seus esforços reguladores, de captura e domesticação sempre imperfeita” (Sanchis, 1983: 374). Nesta medida, as festas populares refletem as próprias vidas das pessoas, atravessadas por tensões e ambiguidades, repletas de idealizações entre um passado enaltecido e um presente gerador de sentidos, inspirador de atividades coletivas, de emoção globalizante, de comunicação e de participação, que aspira a um futuro de igualdade e fraternidade.

Referências bibliográficas

Augé, Marc. (1992) 2006. Não-Lugares. Introdução a uma Antropologia da Sobremodernidade. Lisboa: 90 Graus Editora.

Boissevain, Jeremy (dir.). 1992. Revitalizing European Rituals. London: Routledge.

Cairo, Heriberto (org.). 2018. Rayanos y Forasteros: Fronterización e identidades en el Limite Hispano-Portugués. Madrid: Plaza y Váldes Editores.

Geertz, Clifford. 1973. The Interpretation of Cultures: Selected Essays. New York: Basic Books.

Hobsbawm, Eric y Ranger, Terence (ed.). 1983. The invention of tradition. Cambridge: Cambridge University Press.

Homobono Martínez, José Ignacio. 2012. “Dimensiones nacionalitarias de las fiestas populares: lugares, símbolos y rituales políticos en las romerías vascas”, Zainak. 35: 43-95.

Mauss, Marcel (2001). Ensaio sobre a Dádiva, Lisboa: Edições 70.

Prokkola, E.  2007. “Cross-border Regionalization and Tourism Development at the Swedish-Finnish Border: «Destination Arctic Circle»”. Scandinavian Journal of Hospitality and Tourism, 7, 2: 120-138.

Resumen del Diagnóstico Socioeconómico de la Zona de Cooperación 2013. Programa de Cooperación Transfronteriza España-Portugal 2014-2020. URL: http://www.poctep.eu/sites/default/files/documentos/1420/Resumen_Diagnostico_14_10_13_ES.pdf. [Consulta: 12 de Março de 2014].

Roteiros do Baixo Guadiana. 2013. Andaluzia: Junta de Andalucia/Programa de Cooperação Transfronteiriça España−Portugal 2007-2013/UE-FEDER. URL: http://www.juntadeandalucia.es/turismoycomercio/publicaciones/143368212.pdf%5BConsulta: 12 de Março de 2014].

Sanchis, Pierre. 1983. Arraial: Festa de uma Povo As Romarias Portuguesas, Lisboa, Publicações D .  Quixote.

Zozaya Montes, Leonor. 2011. “Construcciones para una canonización: reflexiones sobre los lugares de memoria y de culto en honor a San Isidro Labrador”, Tiempos Modernos, 22.

 

Vídeos realizados no ámbito do trabalho de campo em 2014:

– “El cante y el baile en la Romería de San Isidro El Labrador”, Rosal de la Frontera (Huelva), 17 e 18 de Maio: http://www.youtube.com/watch?v=2DYucDa6-CU

– “Tamborileros «Los Bravo» en la Romería San Isidro El Labrador”, Rosal de la Frontera (Huelva), 17 e 18 de Maio: http://www.youtube.com/watch?v=3I1Wp76INMM

– “Baptismo – Romería de San Isidro El Labrador (Rosal de la Frontera – Huelva)”, 18 de Maio: https://www.youtube.com/watch?v=VtC-mWbE1qQ

– “O tamborileiro em Vila Verde de Ficalho (Baixo Alentejo)”, 26 de Abril: http://www.youtube.com/watch?v=tEED1kSR1Qg

– “«Os Amigos da Pinguinha» – na Festa da Senhora das Pazes” (Vila Verde de Ficalho, Baixo Alentejo): https://www.youtube.com/watch?v=rCDQqzmFDZI

– “El cante y el baile na Festa da Senhora das Pazes”, Vila Verde de Ficalho (Baixo Alentejo), 27 de Abril: http://www.youtube.com/watch?v=fcN8GFNormw

– “RITM’ARTES – Festa da Senhora das Pazes (Vila Verde de Ficalho – Baixo Alentejo), 25 a 27 de Abril: https://www.youtube.com/watch?v=AQmAQKOGOSs

– “Uma festa transfronteiriça – Festa da Senhora das Pazes”, Vila Verde de Ficalho (Baixo Alentejo), 25 a 27 de Abril: http://www.youtube.com/watch?v=SD2tyokqQFE

– “O Cante na Festa da Senhora das Pazes”, Vila Verde de Ficalho, 25 de Abril: http://www.youtube.com/watch?v=lpDUSmvVe2M

– “O tamborileiro na festa de Nossa Senhora das Pazes – Vila Verde de Ficalho (Baixo Alentejo), 24 de Abril: https://www.youtube.com/watch?v=Ij5cigD6Zq8

Comunicação apresentada no Colóquio Internacional de Estudos sobre Memórias, Sons e Textos: festas e representações, entre a subversão e a patrimonialização, organizado pelo INET-md e IHC na NOVA FCSH. Lisboa, 19 e 20 de abril de 2018.

 

Las romerías, la música y la danza

El calendario festivo de los andaluces está configurado por viejas celebraciones religiosas romanas que organizaban el tiempo festivo diferenciado del tiempo de ocio. Se celebran las festividades en parte herederas del calendario pagano y otras que conmemoran distintos momentos de la vida, así como las de los santos patronos. En las romerías la música y la danza poseen una consistencia performativa intuitiva, cuando sus ejecutantes poseen una gramática e un sistema musical interiorizados que transmiten por medio de prácticas sociales. Es imposible disociar la música de la dimensión ritual de las romerías, especialmente significante en los procesos de producción e experiencia musical tradicional. Cualquier performance musical es un evento integrado y padronizado de un sistema de interacciones sociales, cuyo significado no puede ser entendido o analizado separado de las restantes componentes del sistema cultural (Blacking 1995: 226-227). El baile por sevillanas, predominante en la parte occidental de Andalucía desde hace muchas décadas, se complementa con fandangos, verdiales y canciones de cuadrillas, característicos de la zona oriental. Todavía, los reportorios musicales de los grupos de tamborileros y de flamenco, siguen cada vez más el modelo institucionalizado y patrimonializado de la Romería de El Rocío .

Las romerías están vinculadas a una “religiosidad popular”, que debe ser entendida como una de las manifestaciones de la cultura de una comunidad, cuyo campo de estudio será “el conjunto de creencias y rituales fruto de la actividad simbólica de un grupo humano y que el propio grupo ha caracterizado como sagrados o religiosos”. Sin embargo, “a la religiosidad popular pertenecen las ideas de una comunidad sobre los seres sobrenaturales y su influencia en la vida (creencias), así como las prácticas mediante las cuales el individuo o la colectividad se pone en relación con estos seres (ritos)” (Arregi, 1993: 532). Esta religiosidad se expresa fundamentalmente a través de las fiestas, entre las que destacan las romerías o peregrinaciones anuales a los santuarios locales, como por ejemplo los de San Isidro (Rosal de la Frontera), San Mamés (Aroche) y San Antonio (Cortegana), en honor de las imágenes titulares de hermandades.

Las hermandades son organizaciones complejas y con base jurídica, que han suplido en el pasado siglo en no pocos casos a las mayordomías, que sin embargo conservan un destacado papel en los actos rituales de la fiesta. Son características básicas de las hermandades el ser asociaciones de seglares, autorizadas por la autoridad ordinaria eclesiástica, que dan culto especial a una o varias imágenes titulares en altares y capillas parroquiales, iglesias conventuales, capillas y ermitas. La ermita, situada en la periferia del territorio comunitario, es el polo alternativo del universo sagrado popular: “representa una religiosidad no institucional ni jerarquizada, que suscita la desconfianza de la autoridad eclesiástica”. Es en torno a ermitas y santuarios, donde se conservan con mayor vigencia las creencias populares y tiene lugar todo un sistema de rituales colectivos. Los rituales festivos son intrínsecamente polisémicos, y comprenden una pluralidad de significados no siempre iguales para todos los participantes, todavía las secuencias rituales y festivas que se suceden durante una romería no varían significativamente: subida, llegada, actos devocionales, liturgia, procesión, comensalismo, música y baile.

Las romerías son peregrinaciones a las ermitas, alejadas del pueblo, unas fiestas en el doble sentido litúrgico y festivo, de conmemoración religiosa y de reencuentro anual propicio para la celebración lúdica, turística y participativa; cuyas tres referencias fundamentales son los lugares de origen de los romeros; el camino, que requiere varias horas de viaje a pie y la ermita, así como la relación mágico religiosa con el Santo, de exaltación de las comunidades.  “Como otros tipos de fiestas, desempeñan funciones religiosas y lúdicas, pero también cívicas o políticas, ya que suscitan sentimientos de pertenencia e identidad grupal, local y nacional” (Homobono Martínez, 2012: 43). En las romerías predomina lo festivo y lúdico sobre lo religioso, y el comensalismo institucionalizado, que constituye un interesante aspecto diferenciador de estas fiestas frente a otras similares del resto de la Andalucía.

 

Referencias bibliograficas:

Arregi, Gurutze & Manterola, Ander. 1993. “Religiosidad popular”. In Diccionario temático de Antropología, Barcelona: Boixareu.

Blacking, John. 1995. “Music, Culture and Experience”. In Music, Culture & Experience, Chicago, University of Chicago Press, p. 223-242

Homobono Martínez, José Ignacio. 2012. “Dimensiones nacionalitarias de las fiestas populares: lugares, símbolos y rituales políticos en las romerías vascas”, Zainak. 35: 43-95.

Félix Sancha Soria (2013) “90 años de la Hermandad de San Mamés”: http://www.huelvainformacion.es/article/opinion/1527107/anos/la/hermandad/san/mames.html

Talego Vázquez, Félix. 2003. “Significados simbólicos de las principales fiestas de Aroche”, VII Jornadas del Patrimonio de la Sierra de Huelva, Diputación Provincial, Rosal de la Frontera, 49-84: http://www.federacionsierra.es/media/documentos/doc337.pdf

 

 

Os tamborileiros da Serra de Huelva (Andaluzia)

As referências mais antigas de um duo instrumental, composto por uma flauta e um tambor, datam do início do século XIII, segundo o estudo de Jeremy Montagu (1997). A ausência de paralelismos com qualquer modelo oriental, numa época marcada pela chegada de instrumentos árabes à Europa, sustenta a hipótese de uma invenção europeia. Os dados disponíveis mostram um surgimento, sem qualquer anterioridade ou desenvolvimento prévio, indicando que o tamborileiro alcançou popularidade em muitos lugares do continente europeu. A iconografia comprova a sua presença na Inglaterra, Península Ibérica, França e Flandres durante o séc. XIII. Outros autores, como Dorota Popławska (1998) apontam para a existência de tamborileiros em Itália, durante o final do século XIII, e na Alemanha, Dinamarca, Suécia e Baixa Silésia (actual Polónia) desde a segunda metade do século XV. Os tamborileiros eram músicos itinerantes, e o aparecimento de testemunhos iconográficos em várias partes da Europa Ocidental no início do século XIII, pode refletir a mobilidade dos executantes, e não a difusão dos instrumentos em diferentes locais, como propõe Montagu (1997). Uma das fontes iconográficas mais antigas, representando um tamborileiro, encontra-se na Catedral de Exeter, na Inglaterra, datado de 1240. Todavia, encontramos na Península Ibérica uma das representações mais importantes nas iluminuras do manuscrito das Cantigas de Santa Maria, um conjunto de quatrocentas e vinte e sete composições em galaico-português, atribuídas ao poeta e trovador galego Airas Nunes, e a Afonso X, o Sábio, durante o seu reinado (1221-1284).

Cantigas de Santa Maria, Espanha, 1260

O conjunto flauta e tambor forma parte da tradição musical de alguns países da Europa e América, com particular incidência na Península Ibérica, na região da Provença e na Inglaterra, onde reapareceu vinculado à recuperação de tradições folclóricas, fenómeno que também ocorreu nos Estados Unidos e Canadá. Na América Latina, o duo está inserido nas tradições musicais dos povos indígenas e mestiços, e pode ser encontrado no México, Peru, Equador, Bolívia, Brasil, e no noroeste argentino pelo menos até o final da década de 40, do século XX, (Hernandez Di Giorgi 2010: 18). A revalorização da flauta e tamboril enquadra-se no processo de revivificação da música de matriz rural, iniciado nos finais da década de 80, do séc. XX, por musicólogos, etnomusicólogos, estudiosos locais e músicos. Num fenómeno comparável à revitalização da gaita-de-foles na Península Ibérica, implicando o estudo, a padronização do instrumento e redes de ensino, que envolvem  investigadores, músicos, artesões e agentes culturais. A criação de associações, como a Asociación de tamborileros “Santiago Béjar” na Extremadura, os eventos como The International Pipe and Tabor Festival, em Gloucester, os sites, blogs e publicações que encontramos na internet mostram o interesse que a flauta e tamboril tem suscitado nas últimas décadas. A obra La Gaita y el Tamboril, de Alberto Jambrina e José Ramón Cid Cebrián (Diputación de Salamanca, 1989) e a obra Santiago Béjar. El hijo del tamborilero, coordenada pela Professora Pilar Barrios da Universidad de Extremadura, publicada pelo Ayuntamiento de Plasencia e Asociación de tamborileros “Santiago Béjar” em 2011 (http://descargas.nuestramusica.es/santiago_bejar.pdf), exemplificam os estudos e as dinâmicas musicais em Zamora e na Extremadura. Camilo Hernandez Di Giorgi (2010) diz-nos que a diferença entre os tamborileiros zamoranos ou estremeños reside menos no feitio dos instrumentos, do que no repertório, ou na técnica utilizada. A flauta tocada na região serrana e ao sul da província de Badajoz é um instrumento de maiores dimensões, com som mais grave e frequentemente apelidado de pito serrano. A flauta tocada no sul de Huelva e em Sevilha, o pito rociero, é em geral pequena e de som agudo. Em Portugal, o conjunto é encontrado na zona fronteiriça de Terras de Miranda (Trás-os-Montes) e no Baixo Alentejo, na margem esquerda do Guadiana. A flauta é chamada de pífaro, pífano, flauta, flaita ou fraita, esta última designação principalmente nas Terras de Miranda. No Alentejo, o termo mais utilizado nas fontes escritas e documentos é gaita. O tambor é chamado invariavelmente de tamboril.  Os instrumentos encontrados em Miranda do Douro são semelhantes aos encontrados na província vizinha de Zamora, assim como os do Alentejo guardam semelhanças com os de Huelva (Andaluzia), e com os de Badajoz (Estremadura). mostrando que a cultura expressiva ignora os limites político-administrativos dos estados. Na Andaluzia, nas comarcas de Andévalo e El Condado, província de Huelva, e na comarca de Aljarafe, província de Sevilla, a flauta é conhecida como gaita rociera, ou pito rociero, vinculando-se às romarias religiosas (Hernandez Di Giorgi 2010: 20).

20140517091339(1) 20140531144424(1) 20140531094332(1) 20140531095642(2) 20140613184441(4) 20140613184441(2)

O conjunto flauta e tambor está ligado principalmente a eventos religiosos e a alguns eventos lúdicos. Na região ao sul de Badajoz e no norte serrano de Huelva, o tamborileiro está vinculado às festas das municipalidades, destacando-se nas diversas danças da região serrana: as lanzas (danças lúdico/religiosas), de Hinojales, e as diversas danzas de palos ou espadas, enquanto nas outras partes de Huelva e Sevilha, o conjunto está estreitamente ligado às romarias e festas religiosas (Hernandez Di Giorgi 2010: 22). O grupo de tamborileiros “Los Bravos”, naturais de El Cerro de Andévalo, foi o primeiro grupo que registámos, durante os rituais religiosos e lúdicos da Romería de San Isidro El Labrador (Rosal de la Frontera).

A romaria do Rocío contribuiu para popularizar o tamborileiro na província de Huelva, e permitiu implementar escolas de tamborileros afetos a diversas Hernandades, criando um repertório de fandangos e sevillanas que podemos ouvir em quase todas as romarias. No trabalho de campo desenvolvido nas romarias de Rosal de la Frontera, Aroche e Cortegana demos conta desta realidade, e inquirimos alguns tamborileiros sobre o uso de um repertório vinculado à romaria de Rocío. A resposta fundamenta-se na diversidade do repertório de sevillanas, e no desconhecimento que as novas gerações de tamborileiros têm de temas tradicionais, como a “Jotilla de Aroche”, que Antonio Rodríguez, professor da escola de tamborileiros de Rocío, interpretou, no contexto da nossa conversa.

A utilização de um repertório vinculado à romaria de Rocío também se relaciona com a interação dos músicos com um público apreciador de sevillanas divulgadas na rádio, televisão e indústria discográfica, que facilmente reconhecem e cantam. Na romaria de San Mamés, em Aroche, no final da missa romera, o grupo de flamenco “Resolana” (de Huelva) cantou “Salve Rociera”, sevillana dedicada à Virgen de Rocío, a pedido de membros da Hernandad e do público presente. Também na Romería de San Antonio, em Cortegana, fui surpreendida pelos tamborileros Félix y Samuel, naturais de Almonaster la Real, quando interpretaram o mesmo tema, na saída da Romaria.

Nas romarias de Rosal de la Frontera, Aroche e Cortegana, os tamborileiros tocaram uma série de toques próprios das peregrinações, como o toque de la diana, o toque del camino e o del romerito, inseridos no ritual religioso. Para além dos toques cerimoniais tocam fandangos e sevillanas para acompanhar os bailes durante os descansos do camino, ou animar grupos que os convidam para as suas casetas. Na romaria de San Mamés surpreendi Juan Mozo Diáz, tamborileiro de Aroche, interpretando um conjunto de temas com funções religiosas e lúdicas.

Em Cortegana, também foi possível ouvir e gravar as músicas dos tamborileiros Félix e do seu aluno Samuel, de Almonaster la Real, executadas num  contexto lúdico de interação social e musical, entre as quais a sevillana “Blanca y Azul” de Huelva.

BLANCA Y AZUL (sevillana)
Blanca y azul, Blanca y azul,
blanca y azul
es la bandera de Huelva
blanca y azul
es la bandera de Huelva
blanca y azul.

Blanca y azul
es el color del vestido
que llevas tu
es el color del vestido
que llevas tu.

ESTRIBILLO
Los dos colores los llevo
en mi corazón metió
en mi corazón metió
y en la cinta del sombrero
a la Virgen del Roció.
(…)

 

Referência bibliográficas:
Hernandez Di Giorgi, Camilo. 2010. A banda de um homem só: Estudo organológico da flauta e tambor. Dissertação apresentada ao Instituto de Artes da Universidade Estadual de Campinas, para obtenção do título de mestre em Música. Disponível em: http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=000784011&fd=y

Montagu, Jeremy. 1997. “Significación del conjunto flauta y tamboril”. Txistulari, nº 172, oct. Disponível em: http://www.txistulari.com/contenidos/musikologia/montagu.htm

Poplawska, Dorota. “The Representation of Music Instruments in Stone Sculpture in Lower Silesia Until the Beginning of the 16th Century”. Polish Music Journal, Winter 1998. ISSN 1521 – 6039. Disponível em: http://www.usc.edu/dept/polish_music/PMJ/issue/1.2.98/poplawska.html

Fontes Internet:
El Tamborilero (Web de Juanma Sánchez). Consultável: http://www.tamborileros.com
The Taborers Society (Web-Site). Consultável em: http://pipeandtaborfestival.wordpress.com/
Asociación Cultural de Tamborileros Norte de Extremadura Santiago Béjar. Consultável em: http://www.tamborileros.net/index.htm
Pasado, Presente y Futuro de la Faluta y el Tamboril en Castilla y Léon”. Consultável en: http://musicatradicional.net/pasado-presente-y-futuro-de-la-flauta-y-el-tamboril-en-castilla-y-leon/
“La vida y al habla en la gaita y el tamboril Salmantino” (Valladoli). Consultável em http://www.funjdiaz.net/folklore/07ficha.php?ID=338
“Santiago Béjar. El hijo del tamborilero”. Consultável em: http://descargas.nuestramusica.es/santiago_bejar.pdf
Iniciación a la práctica instrumental. Consultável em: http://www.tamborileros.com/pdf/tamboril%20y%20flauta%20-%20iniciacion%20a%20la%20practica%20instrumental.pdf
“El tamborilero. Hablan la flauta y el tamboril”. Consultável em: http://www.vivirextremadura.es/el-tamborilero-hablan-la-flauta-y-el-tamboril/
“La Flauta y tamboril en el noreste de Portugal” (Gwilym Davies, 2010). Consultável em: http://www.pipeandtabor.org/the-pipe-and-tabor/pipe-and-tabor-worldwide/pipe-and-tabor-traditions-in-ne-portugal/la-flauta-y-tamboril-en-el-noreste-de-portugal/
Arquivo Sonoro Ernesto Veiga de Oliveira (1961). Consultável em: http://alfarrabio.di.uminho.pt/arqevo/
“Os tamborileiros do Baixo Alentejo” – série documental: O Povo que Canta 6.º programa. Consultável em: http://www.michelgiacometti.com/pdf/volume_2.pdf
Projecto Tocar de Ouvido promovido pela Associação Portuguesa para o Estudo e Divulgação da Gaita-de-foles em 2007 (tamborileiros). Consultável em: http://www.gaitadefoles.pt/tocardeouvido/2007/flautatamborileiro.htm
“Flauta e tamboril nordestinos vão ser padronizados” (Dez. 2013). Consultável em: http://www.publico.pt/local-porto/jornal/flauta-e-tamboril-nordestinos-vao-ser-padronizados-27596891
“Al son de la Escuela de Tamborileros”. Consultável em: http://www.huelvainformacion.es/article/huelva/1454384/son/la/escuela/tamborileros.html
Hermandad de Huelva (Músicas). Consultável em: http://www.hermandaddehuelva.com/?page_id=1066

“I Encuentro de Tamborileros de la Hermandad del Rocío de Huelva”. Consultável em: http://www.rocio.com/index.php?contenido=2765
Escuela de Tamborileros “Hermandad de Ntra. Sra. del Rocío de Dos Hermanas”. Consultável em: http://www.rociodoshermanas.es/index.php?option=com_content&view=article&id=242%3Aescuela-de-tamborileros-qhermandad-de-ntra-sra-del-rocio-de-dos-hermanas&Itemid=92

 

 

 

Cortegana, de la naciente del río Chanza hasta la Romería de San Antonio

Cortegana es un municipio español de la provincia de Huelva, en la Sierra de Aracena (Andalucía). Tiene una extensión de 174 km², y en 2010 contaba con 4.939 habitantes. Los historiadores locales dicen que Cortegana fue fundada por los turdetanos, y que en la loma que une los cerros del Castillo y Santa Bárbara se asentó la Corticata romana. Tras ser conquistada a los árabes por la Orden Hospitalaria, fue portuguesa e cambiaría de manos sucesivas veces en el conflicto del Algarve, al que el Tratado de Badajoz puso fin. En la villa nace el río Chanza, en la calle del mismo nombre, que recorre los términos de Aroche y Rosal de la Frontera, delimita la frontera  hispano-portuguesa, y va ofrecer sus aguas al río Guadiana. Cortegana ha estado ligada a la agricultura y a la ganadería, pero da industria del corcho fue de gran importancia para el desarrollo de la economía hasta los años 30. La industria proporcionó la creación de una clase de obreros politizados, fundadores de la Sociedad Gran Casino. La autoría del edificio corresponde al arquitecto de referencia en toda la provincia de Huelva, José María Pérez Carasa, y Arcadio Cantos Marín fue el fundador de la Sociedad. En la artesanía local encontramos una diversidad de artes como la orfebrería, los encajes de bolillos, los bordados, la cerámica, antiguos talleres de forja, que atestan el pasado de una comarca prospera, que fue destruida por la represión franquista en la guerra civil (1936-1939). En la actualidad es la industria del cerdo ibérico que se ha desarrollado en Cortegana, con productos exportados a todo el mundo, e el turismo también juega un papel importante en la economía local. Las fiestas religiosas son la Semana Santa, la Romería de San Antonio de Padua y en septiembre las fiestas patronales en honor de Nuestra Señora de la Piedad. En agosto se celebran las Jornadas Medievales en Cortegana, que están integradas en una red de municipios, con Serpa y Castro Marim (Portugal). El Castillo sirve de escenario principal, donde todo el pueblo se traslada a la época medieval; unos días en los que doncellas y juglares recorren las calles de la localidad. Para más información visita http://www.medievalescortegana.org.

   Sociedad Gran Casino

Naciente del río Chanza    Sociedad Gran Casino

La Romería en honor a San Antonio de Padua es la fiesta religiosa-popular más importante, y se celebró en los días 14 y 15 de junio. Aunque no exista documentación relativa a la primera romería de Cortegana, podemos afirmar que fue en el año de 1946 que el reverendo D. Amadeo Piña Mateos, reuniéndose con diferentes vecinos, acordaron inventar una romería. La primera reunión tuvo lugar en el bar de Juan Esteban Ruiz Capitán y estaba D. Ezequiel Mozo Bravo, Notario, nacido en Alamillo (Ciudad Real) lugar de donde San Antonio de Padua era su patrón. En una reunión acordaron que teniendo en cuenta que en las iglesias de Cortegana se encontraban imagines de San Antonio de Padua y que la fecha de su onomástica no coincidía con ninguna festividad de los pueblos cercanos, San Antonio seria el patrón de la romería. Solucionada la fecha y el patrón, solo faltaba un lugar donde la celebrar, que no podía ser muy apartado del pueblo, tenía de tener agua, ser sombreado y tener una ermita. Así, la aldea de La Corte, a 6 Km de Cortegana cumplía los requisitos ideales para celebrar la romería. En la semana precedente a la Romería, se celebra el Pregón en la carpa instalada por el Ayuntamiento de Cortegana en la Plaza del Prado. En los días 11, 12 y 13 se celebrarán los tradicionales Triduos en honor a San Antonio, en la Iglesia Parroquial del Divino Salvador. Por la tarde del día 13 oímos los tambores e las flautas de Félix y Samuel, de Almonaster la Real, tocando en la Plaza del Divino Salvador. En la Iglesia, los niños recibían la medalla de San Antonio, en un ritual de integración. A la finalización del Triduo, por la noche, se procedió al Traslado del Estandarte a la Ermita del Calvario.

(…)
San Antonio tu medalla
La tengo en mi cabecera
Para no sentirme solo
De mi sueño es compañera
(…)

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En la mañana de 14 de junio, en la Capilla del Calvario, se reunirán cientos de caballistas, carrozas y romeros para iniciaren el camino hasta La Corte. En la salida oímos los tamborileros Félix y su aluno Samuel, de Almonaster la Real, tocando “Salve Rocinera”, e el “El camino”. Para el antropólogo Salvador Rodríguez Becerra: “La Iglesia ha pensado algunas veces que la religiosidad popular era algo con lo que había que convivir, pero que era ignorante y estaba equivocada y que con el tiempo y una caña (…) El pueblo acude a lo sagrado cuando lo necesita, para pedir y, por supuesto, ofrecer algo a cambio… Son relaciones muy parecidas a las humanas. En Andalucía la gente es muy devota, pero no fieles dispuestos a obedecer, la promesa es lo que caracteriza a la religiosidad popular”. Ver más de la entrevista, “Tener una imagen de devoción popular es una importante fuente de ingresos”, en: http://www.diariodesevilla.es/article/sevilla/1770310/tener/una/imagen/devocion/popular/es/una/importante/fuente/ingresos.html

 

El camino hasta La Corte se hace en carrozas, a caballo, o a pie, de acordó con las posibilidades económicas y las promesas de cada uno. En las carrozas cantase sevillanas y fandangos, en una profunda exaltación lúdica. La romería es un tiempo de fiesta, de compartir comida y bebida, de reencuentro de amigos. El camino tiene dos parajes, una en “El Molino”, otra en “El Palomar”, adonde se canta y baila. Todavía, para algunos, hay un primer paraje para evocar un amigo que partió.

(…)
Tiene mi pueblo un camino
Donde expresa su alegría
Con San Antonio Divino
Cuando va de romería
(…)

 

Coplas de Rafael Vázquez “Campuzano” 2014

 

Romería de San Mamés, una devoción popular transfronteriza en Aroche (Huelva)

El culto a San Mamés en la Península Ibérica es muy antiguo, y muy difundido en los signos XI, XII y XIII, principalmente en las zonas donde el pastoreo de ganado bovino y ovino era más intenso. La advocación a este santo es muy común en Portugal, Asturias, Cantabria, Castilla-León, Aragón o La Rioja, donde no sólo hay localidades con esta denominación sino también numerosas iglesias, ermitas, romerías y ferias. La construcción de la ermita de San Mamés en Aroche coincide con la venida de los ganados del Real y Honrado concejo de la Mesta, siglo XIII, “y es comprensible que un lugar tan inhóspito los pastores necesitaran un espacio donde dirigir sus oraciones pidiendo protección para su personas y ganados” (Rodríguez Guillén, 2004: 170). La Mesta era una asociación de ganaderos que regulaba la trashumancia de ganado, y estaba controlada por la nobleza castellana. La lana era el principal producto de exportación que se dirigía a Flandes (Bélgica y Holanda). “Los desplazamientos y estancias hicieron que los pastores mesteños dejaran a los arochenos como herencia parte de sus costumbres y tradiciones, como fue el caso de la veneración a santos norteños, uno de los cuales, San Mamés, se ha convertido con el tiempo en patrón de Aroche. Esta forma de vida les llevó a elegir una iconografía próxima al mundo ganadero, pues al Santo arocheno además del misal le acompañan un cayado de pastor. Dentro de la dehesa de propios de Cortedelana, cercana al cerro de La Charneca, construyeron una ermita en honor a San Mamés, quedando hoy solamente sus ruinas. Era una edificación pequeña, de tradición románica, construida con materiales de los alrededores, de una sola nave y abside, cubriéndose con la característica teja árabe” (Félix Soria , inédito). Antonio Rodríguez Guillén (2003) afirma que “a mediados del siglo XVII, en 1621, era visitada por Rodrigo Caro, que dice que estaba “situada en el actual término de Rosal de la Frontera, próxima a la de San Isidro, en lo alto de un cerro conocido documentalmente como “Llano del Cabezo”. (…) Entre 1725 y 1728 se realizaron obras pidiendo dinero en las villas de Aroche y Santa Bárbara y en la portuguesa de Serpa, donde la devoción al Santo era grande. En el 13 de Julio de 1749 Don Francisco de Melo (Conde de Ficalho), dona 3000 ladrillos y 20 cahices de cal, para la restauración que se está realizando, y es una prueba de la devoción que se le tiene al Santo al otro lado de la frontera” (2004: 172). La fiesta duraba tres días y se celebraba por la Pascua de Pentecostés, teniendo un ámbito transfronterizo al reunir a los vecinos de poblaciones como Aroche, Santa Bárbara de Casa, Cabezas Rubias, Rosal de la Frontera y Vila Verde de Ficalho. “A la solemne misa le seguía la procesión por los alrededores de la ermita de una imagen de San Mamés de estilo románico y actividades lúdicas como la comida de hermandad, bailes de danzas, mascaradas, fuegos artificiales y capeas de toros” (en Félix Sancha Soria: “90 años de la Hermandad de San Mamés”).

Las romerías son rituales festivos celebrados en lugares rústicos cuyo potencial performativo se manifiesta mediante rituales y símbolos. “Como otros tipos de fiestas, desempeñan funciones religiosas y lúdicas, pero también cívicas o políticas, ya que suscitan sentimientos de pertenencia e identidad grupal, local y nacional” (Homobono Martínez 2012: 43). La romería de San Mamés es una peregrinación a la ermita, alejada del pueblo, una fiesta en el doble sentido litúrgico y festivo, de conmemoración religiosa y de reencuentro anual propicio para la celebración lúdica, turística y participativa; cuyas tres referencias fundamentales son los lugares de origen de los romeros; el camino, que requiere varias horas de viaje a pie y la ermita, así como la relación mágicoreligiosa con el Santo, de exaltación de la comunidad aronchera. La ermita, situada en la periferia del territorio comunitario, es el polo alternativo del universo sagrado popular: “representa una religiosidad no institucional ni jerarquizada, que suscita la desconfianza de la autoridad eclesiástica”. Es en torno a ermitas y santuarios, donde se conservan con mayor vigencia las creencias populares y tiene lugar todo un sistema de rituales colectivos. Las romerías suscitan sentimientos de pertenencia e identidad cultural, funcionando como una construcción memorial e identitaria de la comunidad local rural y de otras lealtades más amplias (comarca, región y/o nación). Los rituales festivos son intrínsecamente polisémicos, y comprenden una pluralidad de significados no siempre iguales para todos los participantes, todavía las secuencias rituales y festivas que se suceden durante una romería no varían significativamente: subida, llegada, actos devocionales, liturgia, procesión, comensalismo, música y baile.

En las romerías la música tradicional posee una consistencia performativa intuitiva, cuando sus ejecutantes poseen una gramática e un sistema musical interiorizados que transmiten por medio de prácticas sociales. Es imposible disociar la música de la dimensión ritual de las romerías, especialmente significante en los procesos de producción e experiencia musical tradicional. Cualquier performance musical es un evento integrado y padronizado de un sistema de interacciones sociales, cuyo significado no puede ser entendido o analizado separado de las restantes componentes del sistema cultural (Blacking 1995: 226-227). La romería de San Mamés se ha convertido en un referente identitário, donde se ha reafirmado el sentido de comunidad de los arochenos y demostrado la hospitalidad para con los vecinos y forasteros. Todavía, los rituales estético-musicales, con grupos de tamborileros y de flamenco, siguen cada vez más el modelo institucionalizado y patrimonializado de la Romería de Rocío.

 

Referencias bibliograficas:
Blacking, John. 1995. “Music, Culture and Experience”, in Music, Culture & Experience, Chicago, University of Chicago Press, pp. 223-242

Homobono Martínez, José Ignacio. 2012. “Dimensiones nacionalitarias de las fiestas populares: lugares, símbolos y rituales políticos en las romerías vascas”, Zainak. 35: 43-95.

Rodríguez Guillén, Antonio. 2004, “La Mesta y el Gallego”, XVIII Jornadas del Patrimonio de la Comarca de la Sierra de Huelva, Diputación Provincial, Rosal de la Frontera, 153-189: http://www.federacionsierra.es/media/documentos/doc105.pdf

Sancha Soria, Félix (inédito) “La Mesta, El Gallego y la ermita de San Mamés”, en Historia de Aroche.

Félix Sancha Soria (2013) “90 años de la Hermandad de San Mamés”: http://www.huelvainformacion.es/article/opinion/1527107/anos/la/hermandad/san/mames.html

Talego Vázquez, Félix. 2003. “Significados simbólicos de las principales fiestas de Aroche”, VII Jornadas del Patrimonio de la Sierra de Huelva, Diputación Provincial, Rosal de la Frontera, 49-84: http://www.federacionsierra.es/media/documentos/doc337.pdf

 

Una romería transfronteriza en Rosal de la Frontera (Huelva)

Las relaciones en la frontera hispano-portuguesa fueran construidas al largo del proceso histórico, ancladas en interdependencias económicas, relaciones de parentesco y de amistad. En un catalogo turístico de la Junta de Andalucía podemos leer: “el carácter fronterizo de Rosal de la Frontera ha posibilitado una cierta identidad social y cultural con Portugal, cuya influencia se puede palpar en cada uno de los rincones de este tranquilo municipio”. En la actualidad, las relaciones fronterizas son mantenidas y re-significadas “desde arriba”, por intervención del poder político (local y supralocal), y “desde abajo”, por la interacción social entre las populaciones rayanas. En una zona rural desertificada de personas, las festividades y prácticas rituales fortalecen simbólicamente la continuidad de las relaciones entre los pueblos de Rosal e Vila Verde de Ficalho. La Romería de San Isidro Labrador, la más importante fiesta celebrada en Rosal de la Frontera, es una romería de carácter transfronterizo, invitando a la participación de la Comisión de Fiestas de Nuestra Señora das Pazes, de Vila Verde de Ficalho. Las relaciones entre los dos santos reflejan, simbólicamente, las relaciones de amistad entre dos pueblos vecinos, justificadas en diversas narrativas.

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Romería transfronteriza – Romería San Isidro El Labrador (2014)

El santo patrón, San Isidro, cuyo nombre era Isidro de Merlo y Quintana, nació en torno al 1082 en Madrid, durante el reinado de Alfonso VI, y falleció en el año 1130. Sus padres eran de clase humilde, y una de las primeras ocupaciones de Isidro fue la de pocero, o sea, cavar pozos, al servicio de la familia Vera, hasta que se trasladó a trabajar a Torrelaguna, donde contrajo matrimonio con María Toribia. Fruto de su matrimonio tuvieron un hijo llamado Illán. Al cabo de unos años la familia regresó a Madrid, para cuidar las tierras de la familia Vargas. En ese momento, cuando Isidro realizó las tareas de labrador, pasa a ser conocido popularmente como “Isidro labrador”. Las narrativas populares dicen que la providencia hacía que su cosecha siempre fuera muy grande, y que compartía lo que tenía con los hombres, las aves y otros animales. Debido a su labor, se le considera patrono de los que trabajan la tierra, siendo venerado en varios pueblos de España y América latina, con procesiones en las que se bendicen los campos. En Andalucía, Extremadura y Castilla-La Mancha se hacen romerías en honor al Santo, acompañado de carretas, caballos, carrozas y muchos romeros, como en Rosal de la Frontera. La fiesta, con sus rituales refuerza la identidad cultural de los rosaleños, siendo transmitida a las generaciones futuras.

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El sábado 17 de mayo los tamborileros “Los Bravo” condujeron la alegre diana por las calles rosaleñas, la Hermandad y los Mayordomos entrantes, los Hermanos “Charca. Posteriormente la Comisión de Fiestas de Nuestra Señora Das Paces y San Jorge (Vila Verde de Ficalho) fue recibida junto a la frontera, invitada a integrar el proceso ritual de la fiesta. En la iglesia, el Coro Romero dedicó un canto a la unión entre los dos pueblos, y en la calle se hicieron muchas saludaciones a los dos santos. La romería se celebra junto a la ribera del Alcalaboza, a unos ocho kilómetros del pueblo de Rosal, en dirección a Huelva. Allí se encuentra la Ermita de San Isidro y las casetas arregladas de acuerdo con la condición social de sus propietarios. La romería está integrada en el Plan Romero de la Junta de Andalucía, que garantiza la seguridad y el control del tráfico en la carretera. El programa de fiestas del domingo 18 de mayo, empezó con la Diana Romera interpretada por los tamborileros “Los Bravo”. Tras la misa romera, oficiada por el párroco polaco Tomász Paluch, y cantada por el Coro Romero, los Mayordomos, conocidos cariñosamente en el pueblo como “Los Charcas”: Manuel, Gloria, Mª Luisa y Carmen Romero, ofrecieron una comida a todos los participantes y visitantes, en la Casa de la Hermandad. Por la tarde, en torno a las 20.00 horas, se realizó la procesión sin párroco, del Santo Rosario en el recinto, con ofrendas florales y cantares a San Isidro. La romería proporciona un espacio e un tiempo de expresión y exaltación cultural, de reencuentro, compartido con familiares y amigos. La música y la danza están presentes en todos los rituales de la fiesta, y emergen con espontaneidad en el proceso de interacción social. Las voces del Coro Romero San Isidro acompañan la celebración de rituales religiosos. Los tamborileros conducen los desfiles ceremoniales, pero también están presentes en los momentos más lúdicos de la fiesta. Las dinámicas musicales de las gentes de todas las edades, añaden al ambiente festivo con sus tambores, cañas, panderetas, el cuerpo y la voz, cantando y bailando fandangos y sevillanas.

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El cante y el baile – Romería de San Isidro El Labrador (2014)

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Más allá del programa religioso-popular de la romería, fuimos testigos de un baptismo, en la ribera del Alcalaboza, muy característico de la romería de Rocío. En este ceremonial, paródico, Juan Antonio Fuentes, nacido en Huelva en 1962, fue simbólicamente integrado en la comunidad romera rosaleña, a que pertenece su mujer, María Isabel. El matrimonio tiene dos hijas, y viven en Huelva, aunque Isabel conserve su casa en Rosal. Las fiestas sirven para la reunión familiar, para compartir identidades e momentos lúdicos, repletos de afectos y significados.

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Baptismo en la Romería de San Isidro El Labrador (2014)