Memórias e práticas musicais – o tamborileiro em Santo Aleixo da Restauração (Baixo Alentejo).

As fontes históricas e iconográficas portuguesas mostram-nos, desde a Idade Média, a presença do tamborileiro em contextos festivos e cerimoniais. O conjunto flauta e tamboril está ainda localizado nas zonas fronteiriças das Terras de Miranda (Trás-os-Montes) e no Baixo Alentejo, na Marguem Esquerda do Guadiana. A partir da segunda metade do século XX, esta prática musical sofreu um significativo decréscimo quantitativo e qualitativo, comparativamente a décadas anteriores. O seu estudo também mereceu pouca atenção académica, e deve-se a Ernesto Veiga de Oliveira e a Benjamim Pereira a recolha e gravações realizadas na década de 1960, a Michel Giacometti os registos da década de 1970, e à Associação Pé de Xumbo os estudos no site “Flauta do tamborileiro no Alentejo”; http://tamborileiros.pedexumbo.com/.

Este site mereceu a atenção de Cyril Isnart (2013) que o caracterizou como o resultado “da pesquisa documental de um tocador de tipo revivalista”, Diogo Leal, que reuniu um conjunto de documentos originais, de fotografias, vídeos, arquivos, partituras e textos analíticos. A pesquisa apresentada, segundo a trama das monografias etnomusicológicas clássicas, e das indicações habituais das páginas de internet, transformou o tamborileiro em algo patrimonial, ou seja, “inscrito num regime de valor coletivo da música popular antiga e atual, a um nível bem mais elevado do que antes da sua exposição patrimonial” (Isnart 2013: 10).

No Baixo Alentejo, as funções do tamborileiro permanecem vinculadas às festas religioso-populares e aos peditórios das Comissões de Festa. Em Santo Aleixo da Restauração o tamborileiro está associado às festas de Santo António e da Tomina, assim como aos peditórios de Santo António e Santa Maria, com uma função cerimonial que perdeu ao longo do tempo a sua componente musical. António Maria Cuco (1901-1976), conhecido por “O Estragado” foi o primeiro tamborileiro a ser fotografado e gravado por Ernesto Veiga de Oliveira e Benjamim Pereira, em 1961, para a obra Instrumentos Musicais Populares Portugueses. Em 1965 o tamborileiro António Oliveira Lopes (1915-1984), conhecido por “Guinapo”, foi gravado por Michel Giacometti para o 6º episódio da série documental “Povo que Canta”, dedicado aos tamborileiros do Baixo Alentejo: http://www.youtube.com/watch?v=eWxs_GVgZzE.

Na obra Instrumentos Musicais Populares Portugueses, Benjamim Pereira assinala a sua experiência de terreno ao recordar António Maria Cuco nos seguintes termos.

“Recordo a visita à casa do tamborileiro António Maria Cuco, de Santo Aleixo da Restauração, a sua extrema modéstia e esmero, de uma só divisão, com chão de xisto límpido e paredes contrastantes na brancura da cal, a cozinha na superação rara dos sinais do fogo, a um dos lados e, no oposto, a cama num arranjo de dia festivo. Neste cenário da maior simplicidade destacava-se uma pequena arca de pinho que o António Maria abriu pondo a descoberto a dignidade da sua pobreza, o cheiro das ervas que perfumavam as roupas e, num escaninho, como um bem precioso, o pífaro que agora integra esta colecção”.

Foto do tamborileiro António Maria Cuco, em Instrumentos Musicais Populares Portugueses

Na actualidade os tamborileiros de Santo Aleixo da Restauração são recordados em diferentes grupos familiares. Em Agosto de 2014, na mesma casa modesta citada no texto de Benjamim Pereira conversei com Maria Eugénia, filha de António Maria Cuco, residente nos arredores de Lisboa desde a década de 1970, que em Agosto regressa sempre à terra onde nasceu para assistir à Festa da Tomina.

Nasci no dia de Santa Maria, que era o dia do peditório, e então ele, sempre ouvi dizer que foi com a bebedeira de eu ter nascido que comprou o tambor. Lembro-me sempre dele em chegando a este dia, começava logo a arranjar o tambor. Porque ele quando chegava a casa, o tambor tinha umas cordas à volta e assim que chegava a este dia ele começava a apertá-lo, a apertá-lo e a experimentá-lo, e ele é que fazia as gaitas. Arranjava madeira e fazia as gaitas, e tocava muito bem, não há ninguém que toque como ele tocava, não há ninguém. E dava uma organização, não é por ser meu pai, mas dava uma organização muito grande na festa, dizia aos rapazes “vocês fazem, assim e assim” e agora cada um faz, agora já não é nada. Era uma coisa que ele fazia com gosto. Ganhava, parece que eram 20 escudos que ganhava, tocava dois dias, porque na altura a festa não eram tantos dias. Ele fazia assim, agora quem dá a Alvorada é a música, o meu pai saía daqui tocando o tambor de madrugada, toda a gente já sabia que ia ali o tamborileiro, tocando tum tum, tum tum, mas ele tocava muito bem. (…) Sei que vieram uns senhores aí a gravar, veio aqui o senhor Arlindo, levou-o para aí e estiveram a gravar. O meu irmão ainda tocou, tocava bem, mas não tocava como ele, mas tocava melhor que o Guinapo. O meu irmão ficou com o tambor, depois é que passou para esse senhor que era o Guinapo (Maria Eugénia, filha do tamborileiro António Cuco, irmã do tamborileiro Joaquim Grilo).

Maria Eugénia Cuco

António Maria Cuco com os netos

O “Toque do tamborileiro” executado por António Maria Cuco faz parte da colecção dos Arquivos Sonoros (http://natura.di.uminho.pt/ARQEVO/d1/evo240.mp3), que serviu de base à obra Instrumentos Musicais Populares Portugueses, e permanece ainda na memória dos mais idosos, como testemunhou o mestre Bento Figueira:

Antigamente havia um homem que se chamava tio António “Estragado” que era o tamborileiro, que esse é que era um homem, um profissional naquilo. Tinha uma música mesmo adequada aquilo, e o compasso, de forma que aquilo tocava bem e é sempre o que vai á frente da festa, tocando tambor e dando aquela coisa com aquele apitosinho, com uma gaita, uma gaita de madeira. Tinha aquele toque, dava-lhe duas ou três partes, mas era sempre a mesma coisa (Bento Figueira, à data mestre do grupo coral da Casa do Povo de Santo Aleixo da Restauração).

mestre Bento Figueira

A sonoridade dos toques dos tamborileiros transcende a componente musical, ou seja, está principalmente associada a significados e práticas rituais que organizam o pensamento e a ação dos indivíduos para o tempo festivo, como testemunharam as pessoas com quem conversei:

O tamborileiro faz falta, é o anúncio da Festa. Porque nós quando ouvimos aquele toque do tambor tum, tum tum, aquela coisa, olha já ai vem a festa, já aí vem a procissão, já aí vem o guião do peditório de Santo António, ou o peditório da Santa Maria, e é pelo tum tum do tambor, e quando era o ti António “Estragado” ouvia-se tanto o tum tum do tambor como o apito da gaita. O tamborileiro é isso, para ir à frente da Festa sempre. Esse tem que saberás ruas todas por onde a Festa tem de passar (Bento Figueira, mestre do grupo coral da Casa do Povo de Santo Aleixo da Restauração).

Tamborileiro António Maria Cuco

Gostava de ver o meu pai nisso. O meu pai vinha na sexta-feira, tal como no dia de amanhã, começava já amanhã. O tambor estava na igreja, e o meu pai vinha sexta-feira à tarde par ir buscar o tambor à igreja para ir buscar os guiões à casa dos festeiros, para depois vir com os guiões para a igreja. E depois à tarde, quando vestem a Santinha (N. Srª. das Necessidades), o meu pai ficava na igreja a guardar a Santa, toda a noite, com os Festeiros e com a Guarda (GNR). Sexta toda a noite, sábado todo o dia até à hora da procissão, o meu pai não descansava, porque tinha de apanhar o tambor e ir na procissão. Depois, quando recolhia a procissão, sábado à noite, o meu pai ficava a guardar a Santa, porque a igreja estava aberta, até domingo à tarde que acabasse a outra procissão, mas nós gostávamos. O meu pai tinha muito gosto nisto, depois já começou com a idade, e a minha mãe já nem queria que ele andasse, já era muito cansativo para ele, e depois deixou, deixou a outro. (…) Chama as pessoas à porta, porque a gente ouve o tambor vai à porta, se já se ouve o tambor já aí vem o guião, como no dia da procissão. Gosto de ouvir, significa muito para mim, porque foi uma coisa que passou pelo meu pai, gosto de ouvir (Maria Castro Lopes, filha do tamborileiro Manuel Fialho Lopes).

Maria Castro Lopes

tamborileiro Manuel Fialho Lopes

Isto geralmente é para dar o alarme ao Povo, para as pessoas saberem que anda o guião, que andam as procissões pela rua., porque isto, ninguém vai aprender a fazer nada disto (Mariana Felícia Limpo, filha do tamborileiro António Oliveira Lopes, “Guinapo”).

Mariana Felícia Limpo

tamborileiro António Oliveira Lopes, “Guinapo”

Na festa da Tomina de 2014, António Grilo (Santo Aleixo da Restauração, 1975), neto de António Maria Cuco e filho do tamborileiro Joaquim Grilo “o Ficalheiro” desempenhou pela primeira vez a função de tamborileiro, para manter a tradição.

É um trabalho que eu nunca fiz, de tamborileiro. Apesar do meu pai e do meu avô fazerem eu nunca fiz, mas todos os anos trabalho para a Tomina, todos os anos tenho o meu ordenado e eles todos os anos me vão chamar e agora pediram-me “- É pá Grilo, podes desenrascar a gente? Foi o que eu disse ali dentro: “-Não tens mais ninguém, não te preocupes, eu vou!” (António Grilo, neto de António Cuco e filho de Joaquim Grilo).

As festas associadas a uma sociedade rural que se transformou, modernizaram-se, e são concebidas cada vez mais em função de práticas e consumos urbanos, na abordagem religiosa/profana e nas sonoridades musicais que se mesclam, mas ainda preservam componentes rituais que permitem ler o contexto rural. As funções do tamborileiro estabelecem uma narrativa tradicionalmente definida, independentemente do esvaziamento das funções rituais e da formação musical dos executantes. Como afirmou mestre Bento Figueira: “o tamborileiro faz falta, é o anúncio da Festa”, e desta forma cumpre a função de reordenar o tempo festivo e restabelecer, simbolicamente, a relação dos homens e das mulheres com os ciclos da natureza, como herança cultural preservada.

Festa da Tomina, 2014.

 

Referência Bibliográficas:

Isnart, Cyril. 2013. ’Contra danças não há argumentos’: A dança entre património e moral no âmbito de uma associação cultural portuguesa. Revista Memória em Rede, 8.

Veiga de Oliveira, Ernesto. 2000. Instrumentos Musicais Populares Portugueses. Fundação Calouste Gulbenkian.

Agradecimentos:

António Grilo

Bento Figueira

Comissão de Festas da Tomina, 2014

Isabel Balancho

Mariana Felícia Limpo

Maria Castro Lopes

Maria Eugénia Cuco

 

 

Lugares, pessoas e práticas musicais na raia luso-espanhola

A zona fronteiriça do Baixo Alentejo /Extremadura / Andaluzia caracteriza-se pela baixa densidade populacional e o acentuado índice de envelhecimento (Resumen del Diagnóstico Socioeconómico de la zona de Cooperación, 2013: 1). Os municípios são os principais empregadores e debatem-se com problemas estruturais, como o desemprego e a desertificação, e reinventam-se por meio de atributos identitários e novas festas. A etnografia mostra-nos que as festividades e as atividades musicais financiadas pelos municípios estão direcionadas para a cooperação e a inclusão social, como estratégia de atração turística ao serviço da qualidade de vida das populações.

       

Em contextos rurais envelhecidos e economicamente desarticulados o potencial da música como recurso cultural sustentável é fundamental ao desenvolvimento humano (Turino 2009), porque não só as pessoas sustêm a música, como a música sustem as pessoas, como assinala Titon (2009: 14). Consequentemente, a transmissão da herança cultural  implica a criação de modelos participativos, através de uma ação consertada entre os agentes culturais e os membros da comunidade, a fim de desenvolverem atividades que aspiram a um futuro possível. Na linha proposta por Titon (2009a: 129), para salvaguardar as práticas de música e dança o mais importante é promover as condições de hábitat em que as pessoas podem continuar a fazer música de diversos tipos, de distintas formas e modos, e por múltiplas razões. Neste sentido a cultura expressiva na fronteira luso-espanhola não pode ser observada numa perspetiva macro de movimentos musicais transnacionais que a cruzam, sob pena de obscurecer e perturbar o conhecimento de um processo cultural que implica a interação entre as pessoas e os lugares, assim como o entendimento de práticas culturais que reconstroem um passado comum, ritual e convivencial.

 

Resumen del Diagnóstico Socioeconómico de la Zona de Cooperación 2013. Programa de Cooperación Transfronteriza España-Portugal 2014-2020. http://www.poctep.eu/sites/default/files/documentos/1420/Resumen_Diagnostico_14_10_13_ES.pdf

Titon, Jeff Todd. 2009a. “Music and Sustainability: An Ecological Viewpoint”. The World of Music 51, (1): 119-137.

– 2009. “Economy, Ecology and Music: an Introduction”. The World of Music 51, (1): 5-15.

 

Las romerías, la música y la danza

El calendario festivo de los andaluces está configurado por viejas celebraciones religiosas romanas que organizaban el tiempo festivo diferenciado del tiempo de ocio. Se celebran las festividades en parte herederas del calendario pagano y otras que conmemoran distintos momentos de la vida, así como las de los santos patronos. En las romerías la música y la danza poseen una consistencia performativa intuitiva, cuando sus ejecutantes poseen una gramática e un sistema musical interiorizados que transmiten por medio de prácticas sociales. Es imposible disociar la música de la dimensión ritual de las romerías, especialmente significante en los procesos de producción e experiencia musical tradicional. Cualquier performance musical es un evento integrado y padronizado de un sistema de interacciones sociales, cuyo significado no puede ser entendido o analizado separado de las restantes componentes del sistema cultural (Blacking 1995: 226-227). El baile por sevillanas, predominante en la parte occidental de Andalucía desde hace muchas décadas, se complementa con fandangos, verdiales y canciones de cuadrillas, característicos de la zona oriental. Todavía, los reportorios musicales de los grupos de tamborileros y de flamenco, siguen cada vez más el modelo institucionalizado y patrimonializado de la Romería de El Rocío .

Las romerías están vinculadas a una “religiosidad popular”, que debe ser entendida como una de las manifestaciones de la cultura de una comunidad, cuyo campo de estudio será “el conjunto de creencias y rituales fruto de la actividad simbólica de un grupo humano y que el propio grupo ha caracterizado como sagrados o religiosos”. Sin embargo, “a la religiosidad popular pertenecen las ideas de una comunidad sobre los seres sobrenaturales y su influencia en la vida (creencias), así como las prácticas mediante las cuales el individuo o la colectividad se pone en relación con estos seres (ritos)” (Arregi, 1993: 532). Esta religiosidad se expresa fundamentalmente a través de las fiestas, entre las que destacan las romerías o peregrinaciones anuales a los santuarios locales, como por ejemplo los de San Isidro (Rosal de la Frontera), San Mamés (Aroche) y San Antonio (Cortegana), en honor de las imágenes titulares de hermandades.

Las hermandades son organizaciones complejas y con base jurídica, que han suplido en el pasado siglo en no pocos casos a las mayordomías, que sin embargo conservan un destacado papel en los actos rituales de la fiesta. Son características básicas de las hermandades el ser asociaciones de seglares, autorizadas por la autoridad ordinaria eclesiástica, que dan culto especial a una o varias imágenes titulares en altares y capillas parroquiales, iglesias conventuales, capillas y ermitas. La ermita, situada en la periferia del territorio comunitario, es el polo alternativo del universo sagrado popular: “representa una religiosidad no institucional ni jerarquizada, que suscita la desconfianza de la autoridad eclesiástica”. Es en torno a ermitas y santuarios, donde se conservan con mayor vigencia las creencias populares y tiene lugar todo un sistema de rituales colectivos. Los rituales festivos son intrínsecamente polisémicos, y comprenden una pluralidad de significados no siempre iguales para todos los participantes, todavía las secuencias rituales y festivas que se suceden durante una romería no varían significativamente: subida, llegada, actos devocionales, liturgia, procesión, comensalismo, música y baile.

Las romerías son peregrinaciones a las ermitas, alejadas del pueblo, unas fiestas en el doble sentido litúrgico y festivo, de conmemoración religiosa y de reencuentro anual propicio para la celebración lúdica, turística y participativa; cuyas tres referencias fundamentales son los lugares de origen de los romeros; el camino, que requiere varias horas de viaje a pie y la ermita, así como la relación mágico religiosa con el Santo, de exaltación de las comunidades.  “Como otros tipos de fiestas, desempeñan funciones religiosas y lúdicas, pero también cívicas o políticas, ya que suscitan sentimientos de pertenencia e identidad grupal, local y nacional” (Homobono Martínez, 2012: 43). En las romerías predomina lo festivo y lúdico sobre lo religioso, y el comensalismo institucionalizado, que constituye un interesante aspecto diferenciador de estas fiestas frente a otras similares del resto de la Andalucía.

 

Referencias bibliograficas:

Arregi, Gurutze & Manterola, Ander. 1993. “Religiosidad popular”. In Diccionario temático de Antropología, Barcelona: Boixareu.

Blacking, John. 1995. “Music, Culture and Experience”. In Music, Culture & Experience, Chicago, University of Chicago Press, p. 223-242

Homobono Martínez, José Ignacio. 2012. “Dimensiones nacionalitarias de las fiestas populares: lugares, símbolos y rituales políticos en las romerías vascas”, Zainak. 35: 43-95.

Félix Sancha Soria (2013) “90 años de la Hermandad de San Mamés”: http://www.huelvainformacion.es/article/opinion/1527107/anos/la/hermandad/san/mames.html

Talego Vázquez, Félix. 2003. “Significados simbólicos de las principales fiestas de Aroche”, VII Jornadas del Patrimonio de la Sierra de Huelva, Diputación Provincial, Rosal de la Frontera, 49-84: http://www.federacionsierra.es/media/documentos/doc337.pdf

 

 

Os tamborileiros do Baixo Alentejo – memórias e práticas da cultura

As fontes históricas mostram-nos a presença do tamborileiro, desde a Idade Média, em contextos festivos e cerimoniais. No Baixo Alentejo, as funções do tamborileiro estão vinculadas às festas patronais e aos peditórios. No entanto, a partir da segunda metade do século XX, a prática musical do tamborileiro sofreu um significativo decréscimo quantitativo e qualitativo, comparativamente a décadas anteriores. Na revista A Tradição (1899-1900) (http://www.archive.org/stream/tradio12lisbuoft#page/n7/mode/2up) encontramos artigos de Dias Nunes e A. de Mello Breyner dedicados ao tamborileiro, designando-o como “o homem que toca tamboril e gaita em todas as festas religiosas de arraial (cirios)” (1982: 71-72). A diversidade do repertório, associado aos peditórios, às procissões e às danças nos arraiais, mereceu a transcrição para partitura do músico e compositor Manuel de Jesus Gentil-Homem Valladas.

Partituras e foto de um tamborileiro publicadas na revista “A Tradição”, vol. II, 1900

Partituras e foto de um tamborileiro publicadas na revista “A Tradição”, vol. II, 1900

Em Portugal, o conjunto é encontrado nas Terras de Miranda, Trás-os-Montes, e na raia do Baixo Alentejo. No Alentejo a flauta do tamborileiro tem três furos e subordina-se aos princípios acústicos comuns a instrumentos idênticos, usados na Europa na Idade Média. Anthony Baines (1957) em Woodwind Instruments and their History diz-nos que “as notas fundamentais da flauta de tamborileiro podem-se tocar, mas não são muito usadas. A escala começa uma oitava acima, com o 2.º harmónico e continua, por intensidade de sopro, pelo 3.º, 4.º e 5.º harmónicos e mesmo mais. Neste instrumento, o intervalo maior entre dois registos é de uma quinta, o 2.º para o 3.º harmónico, pelo que os três furos são suficientes para se conseguir as notas necessárias para fazer uma escala” (consultável em: https://ia600506.us.archive.org/13/items/woodwindinstrume000787mbp/woodwindinstrume000787mbp.pdf)
Os instrumentos portugueses assemelham-se aos utilizados no outro lado da fronteira.  O tambor alentejano possui grandes dimensões como as de seus vizinhos, e tanto o pito rociero (Andaluzia) como a gaita alentejana costumam utilizar chifre na cabeça da flauta, revestindo o bico e o bisel, assim como cinzelados que emolduram os dois furos superiores do instrumento.

Félix, tamborileiro de Almonaster la Real (Huelva)

Félix, tamborileiro de Almonaster la Real (Huelva)

João Caçador, tamborileiro de Barrancos (baixo Alentejo)

João Caçador, tamborileiro de Barrancos (Baixo Alentejo)

Na década de 60, Ernesto Veiga de Oliveira Oliveira descreve as funções e práticas musicais do tamborileiro de Barrancos, nas festas de Santa Maria; em Santo Aleixo da Restauração, nas festas de Santo António e da Tomina; e em Vila Verde do Ficalho, na festa de Nossa Senhora das Pazes. Actualmente os tamborileiros acompanham os peditórios, percorrendo todas as casas, com os festeiros, que transportam o guião, e com o fogueteiro. O tamborileiro de Santo Aleixo ainda participa nas procissões de Santo António e na Nossa Senhora das Necessidades, encabeçando o cortejo. Os mais idosos recordam o tamborileiro como “o mestre-de-cerimónias”, que era consultado pelos festeiros por conhecer todas as fases do processo ritual, assim como os percursos pelas ruas das vilas.  Pelos temas gravados, no Arquivo Sonoro de Ernesto Veiga de Oliveira, que serviu de base à obra Instrumentos Musicais Populares Portugueses, os tamborileiros da década de 60 também tocavam a Alvorada na madrugada dos dias de festa (que foi substituída por bandas filarmónicas), e tocavam fandangos e corridinhos nos bailes dos arraiais. Como os temas executados por Romão Estradas, gravados em 1961, na Festa da Senhora das Pazes, em Vila Verde de Ficalho

Na década de 70 Michel Giacometti dedica o 6º episódio da série documental “O Povo que Canta” (emitido a 18 de Outubro de 1971) aos tamborileiros do Baixo Alentejo. O sexto episódio é um tributo a Ernesto Veiga de Oliveira, e foi realizado na zona fronteiriça dos concelhos de Serpa, Moura e Barrancos. Para o documentário foram gravados três tamborileiros (dois em Serpa e um Barrancos) e resgatado o som de um registo de Michel Giacometti, de 1965, em Santo Aleixo da Restauração, com o tamborileiro António Oliveira Lopes (1915-1984), conhecido por “Guinapo”. Giacometti entrevista o tamborileiro Bento José Romeu, de 65 anos, natural de Aldeia Nova de São Bento, vaqueiro no Monte de Belmeque (Vale de Vargos), que foi tamborileiro na Aldeia Nova de São Bento até à década de 50. Este tamborileiro, para além de acompanhar os cerimoniais religiosos tocava em festas, ditas profanas, como os bailes de Entrudo.

Em Barrancos o tamborileiro é designado por “Bibo” e a sua função está reduzida ao Peditório no dia de Santa Maria. Na tarde do dia 14 de Agosto percorre as ruas principais da vila anunciando com o seu toque o peditório que vai decorrer no dia seguinte. Ao longo do tempo o tamborileiro de Barrancos foi visitado e revisitado por antropólogos e etnomusicólogos. Em 1961, Ernesto Veiga de Oliveira gravou e fotografou o tamborileiro António Torrado. Nas fotos, publicadas na obra Instrumentos Musicais Populares Portugueses, o tamborileiro António Torrado estava acompanhado pelos Festeiros: António Marques, Carlos Durão, Carlos Ramos Nazaré, Domingos Fernandes Bossa e Manuel Venegas Gala (2000: 128-129). As gravações recolhidas fazem parte do Arquivo Sonoro que serviu de base ao livro, e foram convertidas para MP3 por Domingos Morais. No Arquivo Sonoro encontramos dois temas de António Torrado:

“Vivo da festa de Santa Maria, Alvorada”: http://natura.di.uminho.pt/ARQEVO/d1/evo017.mp3
“Toque da Procissão”:http://natura.di.uminho.pt/ARQEVO/d1/evo018.mp3

Em 2014, João Caçador (Beja,1999), músico na Banda Filarmónica Fim de Século de Barrancos, retomou o ritual do peditório, executando o toque: “Vivo da festa de Santa Maria” pelas ruas da vila. Em 2007 aprendeu a tocar flauta e tambor com Marco Cardoso, que por sua vez herdou a arte do tamborileiro José Ramón, já falecido. José Ramon foi gravado por Michel Giacometti para o documentário “Os tamborileiros do Baixo Alentejo”, que já referimos. No dia 15 de Agosto de 2014, do nascer ao pôr-do-sol acompanhámos e gravámos o tamborileiro João Caçador e os festeiros Alexandre Baleizão, Hélder Segão, Manuel Cortegano, Manuel Veríssimo e Sérgio Segão, que levaram o guião de Nossa Senhora da Conceição de casa em casa, recolhendo as dádivas dos barranquenhos.

Em Santo Aleixo da Restauração o tamborileiro está associado às festividades de Santo António e da Tomina, assim como aos peditórios de Santo António e Santa Maria, com uma função cerimonial que perdeu ao longo do tempo a sua componente musical. António Maria Cuco (1901-1976) foi o primeiro tamborileiro a ser gravado e fotografado por Ernesto Veiga de Oliveira e Benjamim Pereira: “Recordo a visita à casa do tamborileiro António Maria Cuco, de Santo Aleixo da Restauração, a sua extrema modéstia e esmero, de uma só divisão, com chão de xisto límpido e paredes contrastantes na brancura da cal, a cozinha na superação rara dos sinais do fogo, a um dos lados e, no oposto, a cama num arranjo de dia festivo. Neste cenário da maior simplicidade destacava-se uma pequena arca de pinho que o António Maria abriu pondo a descoberto a dignidade da sua pobreza, o cheiro das ervas que perfumavam as roupas e, num escaninho, como um bem precioso, o pífaro que agora integra esta colecção.” (Benjamim Pereira, em Instrumentos Musicais Populares Portugueses). O “Toque do tamborileiro” executado por António Maria Cuco faz parte da colecção dos Arquivos Sonoros: http://natura.di.uminho.pt/ARQEVO/d1/evo240.mp3
Na festa da Tomina de 2014 foi António Grilo (Santo Aleixo da Restauração 1975), neto de António Maria Cuco e filho do tamborileiro Joaquim Grilo (o Ficalheiro) que desempenhou, pela primeira vez, a função de tamborileiro, para manter a continuidade do ritual. Contudo, na memória dos mais idosos permanece o “toque do tamborileiro” do seu avô.

O tamborileiro em Vila Verde de Ficalho perdeu algumas funções rituais, apesar de acompanhar o guião da Nossa Senhora das Pazes e S. Jorge no peditório para a Festa, a 15 de Agosto, e no agradecimento dos Santos à população, assinalando o início das festividades no fim-de-semana de Pascoela. O tamborileiro de 2014 foi o festeiro Francisco Galhoz (Santo Aleixo da Restauração, 1969), barbeiro de profissão e cantador no Grupo Coral “Os Arraianos de Ficalho”. Na infância acompanhava o ritual do tamborileiro de Santo Aleixo, que incorporou como prática musical e performativa.  Como membro de diversas comissões de festas assumiu a função de tamborileiro, de improviso, realizando um sonho de criança. Mas, os mais idosos recordam os atributos dos antigos tamborileiros, e não reconhecem qualidades nos jovens que asseguram a continuidade de uma prática ritual com significado.

O património sonoro e musical registado por Ernesto Veiga de Oliveira e Michel Giacometti está práticamente extinto no Baixo Alentejo. Em Trás-os-Montes, nas Terras de Miranda, o duo flauta e tamboril vai ser padronizado. Segundo os agentes culturais envolvidos, o processo de “padronização” vai permitir a sua divulgação e utilização por novos músicos, para que esta prática musical, “ligada à pastorícia transmontana não se perca”: http://www.publico.pt/local-porto/jornal/flauta-e-tamboril-nordestinos-vao-ser-padronizados-27596891

Os processos de padronização de instrumentos tradicionais, ou de patrimonialização de práticas culturais, estão directamente relacionados com o movimento de revivificação da música de matriz rural, iniciado na década de 90 por agentes urbanos que reivindicam valores populares. Josep Martí (1996) designou este fenómeno sociocultural de “folklorismo”, de instrumentalização da tradição, considerando as suas finalidades basicamente de tipo estético, ideológico e comercial (Martí 1996: 19). Nas povoações raianas do Baixo Alentejo o tamborileiro permanece, inserido em contextos festivos e cerimoniais com sentido e significado para as populações locais. No entanto, à excepção do tamborileiro de Barrancos, que reproduz o toque “vivo da festa de Santa Maria” transmitido de geração em geração, os tamborileiros observados em Santo Aleixo da Restauração e em Vila Verde de Ficalho representam uma figura simbólica, que permanece na memória colectiva como herança cultural das populações raianas.

João Caçador, tamborileiro de Barrancos, 2014.

João Caçador, tamborileiro de Barrancos, 2014.

 

Francisco Galhoz, tamborileiro de Vila Verde de Ficalho, 2014.

Francisco Galhoz, tamborileiro de Vila Verde de Ficalho, 2014.

 

Francisco Galhoz, tamborileiro de Vila Verde de Ficalho, 2014

António Grilo, tamborileiro de Santo Aleixo da Restauração, 2014.

 

Os tamborileiros da Serra de Huelva (Andaluzia)

As referências mais antigas de um duo instrumental, composto por uma flauta e um tambor, datam do início do século XIII, segundo o estudo de Jeremy Montagu (1997). A ausência de paralelismos com qualquer modelo oriental, numa época marcada pela chegada de instrumentos árabes à Europa, sustenta a hipótese de uma invenção europeia. Os dados disponíveis mostram um surgimento, sem qualquer anterioridade ou desenvolvimento prévio, indicando que o tamborileiro alcançou popularidade em muitos lugares do continente europeu. A iconografia comprova a sua presença na Inglaterra, Península Ibérica, França e Flandres durante o séc. XIII. Outros autores, como Dorota Popławska (1998) apontam para a existência de tamborileiros em Itália, durante o final do século XIII, e na Alemanha, Dinamarca, Suécia e Baixa Silésia (actual Polónia) desde a segunda metade do século XV. Os tamborileiros eram músicos itinerantes, e o aparecimento de testemunhos iconográficos em várias partes da Europa Ocidental no início do século XIII, pode refletir a mobilidade dos executantes, e não a difusão dos instrumentos em diferentes locais, como propõe Montagu (1997). Uma das fontes iconográficas mais antigas, representando um tamborileiro, encontra-se na Catedral de Exeter, na Inglaterra, datado de 1240. Todavia, encontramos na Península Ibérica uma das representações mais importantes nas iluminuras do manuscrito das Cantigas de Santa Maria, um conjunto de quatrocentas e vinte e sete composições em galaico-português, atribuídas ao poeta e trovador galego Airas Nunes, e a Afonso X, o Sábio, durante o seu reinado (1221-1284).

Cantigas de Santa Maria, Espanha, 1260

O conjunto flauta e tambor forma parte da tradição musical de alguns países da Europa e América, com particular incidência na Península Ibérica, na região da Provença e na Inglaterra, onde reapareceu vinculado à recuperação de tradições folclóricas, fenómeno que também ocorreu nos Estados Unidos e Canadá. Na América Latina, o duo está inserido nas tradições musicais dos povos indígenas e mestiços, e pode ser encontrado no México, Peru, Equador, Bolívia, Brasil, e no noroeste argentino pelo menos até o final da década de 40, do século XX, (Hernandez Di Giorgi 2010: 18). A revalorização da flauta e tamboril enquadra-se no processo de revivificação da música de matriz rural, iniciado nos finais da década de 80, do séc. XX, por musicólogos, etnomusicólogos, estudiosos locais e músicos. Num fenómeno comparável à revitalização da gaita-de-foles na Península Ibérica, implicando o estudo, a padronização do instrumento e redes de ensino, que envolvem  investigadores, músicos, artesões e agentes culturais. A criação de associações, como a Asociación de tamborileros “Santiago Béjar” na Extremadura, os eventos como The International Pipe and Tabor Festival, em Gloucester, os sites, blogs e publicações que encontramos na internet mostram o interesse que a flauta e tamboril tem suscitado nas últimas décadas. A obra La Gaita y el Tamboril, de Alberto Jambrina e José Ramón Cid Cebrián (Diputación de Salamanca, 1989) e a obra Santiago Béjar. El hijo del tamborilero, coordenada pela Professora Pilar Barrios da Universidad de Extremadura, publicada pelo Ayuntamiento de Plasencia e Asociación de tamborileros “Santiago Béjar” em 2011 (http://descargas.nuestramusica.es/santiago_bejar.pdf), exemplificam os estudos e as dinâmicas musicais em Zamora e na Extremadura. Camilo Hernandez Di Giorgi (2010) diz-nos que a diferença entre os tamborileiros zamoranos ou estremeños reside menos no feitio dos instrumentos, do que no repertório, ou na técnica utilizada. A flauta tocada na região serrana e ao sul da província de Badajoz é um instrumento de maiores dimensões, com som mais grave e frequentemente apelidado de pito serrano. A flauta tocada no sul de Huelva e em Sevilha, o pito rociero, é em geral pequena e de som agudo. Em Portugal, o conjunto é encontrado na zona fronteiriça de Terras de Miranda (Trás-os-Montes) e no Baixo Alentejo, na margem esquerda do Guadiana. A flauta é chamada de pífaro, pífano, flauta, flaita ou fraita, esta última designação principalmente nas Terras de Miranda. No Alentejo, o termo mais utilizado nas fontes escritas e documentos é gaita. O tambor é chamado invariavelmente de tamboril.  Os instrumentos encontrados em Miranda do Douro são semelhantes aos encontrados na província vizinha de Zamora, assim como os do Alentejo guardam semelhanças com os de Huelva (Andaluzia), e com os de Badajoz (Estremadura). mostrando que a cultura expressiva ignora os limites político-administrativos dos estados. Na Andaluzia, nas comarcas de Andévalo e El Condado, província de Huelva, e na comarca de Aljarafe, província de Sevilla, a flauta é conhecida como gaita rociera, ou pito rociero, vinculando-se às romarias religiosas (Hernandez Di Giorgi 2010: 20).

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O conjunto flauta e tambor está ligado principalmente a eventos religiosos e a alguns eventos lúdicos. Na região ao sul de Badajoz e no norte serrano de Huelva, o tamborileiro está vinculado às festas das municipalidades, destacando-se nas diversas danças da região serrana: as lanzas (danças lúdico/religiosas), de Hinojales, e as diversas danzas de palos ou espadas, enquanto nas outras partes de Huelva e Sevilha, o conjunto está estreitamente ligado às romarias e festas religiosas (Hernandez Di Giorgi 2010: 22). O grupo de tamborileiros “Los Bravos”, naturais de El Cerro de Andévalo, foi o primeiro grupo que registámos, durante os rituais religiosos e lúdicos da Romería de San Isidro El Labrador (Rosal de la Frontera).

A romaria do Rocío contribuiu para popularizar o tamborileiro na província de Huelva, e permitiu implementar escolas de tamborileros afetos a diversas Hernandades, criando um repertório de fandangos e sevillanas que podemos ouvir em quase todas as romarias. No trabalho de campo desenvolvido nas romarias de Rosal de la Frontera, Aroche e Cortegana demos conta desta realidade, e inquirimos alguns tamborileiros sobre o uso de um repertório vinculado à romaria de Rocío. A resposta fundamenta-se na diversidade do repertório de sevillanas, e no desconhecimento que as novas gerações de tamborileiros têm de temas tradicionais, como a “Jotilla de Aroche”, que Antonio Rodríguez, professor da escola de tamborileiros de Rocío, interpretou, no contexto da nossa conversa.

A utilização de um repertório vinculado à romaria de Rocío também se relaciona com a interação dos músicos com um público apreciador de sevillanas divulgadas na rádio, televisão e indústria discográfica, que facilmente reconhecem e cantam. Na romaria de San Mamés, em Aroche, no final da missa romera, o grupo de flamenco “Resolana” (de Huelva) cantou “Salve Rociera”, sevillana dedicada à Virgen de Rocío, a pedido de membros da Hernandad e do público presente. Também na Romería de San Antonio, em Cortegana, fui surpreendida pelos tamborileros Félix y Samuel, naturais de Almonaster la Real, quando interpretaram o mesmo tema, na saída da Romaria.

Nas romarias de Rosal de la Frontera, Aroche e Cortegana, os tamborileiros tocaram uma série de toques próprios das peregrinações, como o toque de la diana, o toque del camino e o del romerito, inseridos no ritual religioso. Para além dos toques cerimoniais tocam fandangos e sevillanas para acompanhar os bailes durante os descansos do camino, ou animar grupos que os convidam para as suas casetas. Na romaria de San Mamés surpreendi Juan Mozo Diáz, tamborileiro de Aroche, interpretando um conjunto de temas com funções religiosas e lúdicas.

Em Cortegana, também foi possível ouvir e gravar as músicas dos tamborileiros Félix e do seu aluno Samuel, de Almonaster la Real, executadas num  contexto lúdico de interação social e musical, entre as quais a sevillana “Blanca y Azul” de Huelva.

BLANCA Y AZUL (sevillana)
Blanca y azul, Blanca y azul,
blanca y azul
es la bandera de Huelva
blanca y azul
es la bandera de Huelva
blanca y azul.

Blanca y azul
es el color del vestido
que llevas tu
es el color del vestido
que llevas tu.

ESTRIBILLO
Los dos colores los llevo
en mi corazón metió
en mi corazón metió
y en la cinta del sombrero
a la Virgen del Roció.
(…)

 

Referência bibliográficas:
Hernandez Di Giorgi, Camilo. 2010. A banda de um homem só: Estudo organológico da flauta e tambor. Dissertação apresentada ao Instituto de Artes da Universidade Estadual de Campinas, para obtenção do título de mestre em Música. Disponível em: http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=000784011&fd=y

Montagu, Jeremy. 1997. “Significación del conjunto flauta y tamboril”. Txistulari, nº 172, oct. Disponível em: http://www.txistulari.com/contenidos/musikologia/montagu.htm

Poplawska, Dorota. “The Representation of Music Instruments in Stone Sculpture in Lower Silesia Until the Beginning of the 16th Century”. Polish Music Journal, Winter 1998. ISSN 1521 – 6039. Disponível em: http://www.usc.edu/dept/polish_music/PMJ/issue/1.2.98/poplawska.html

Fontes Internet:
El Tamborilero (Web de Juanma Sánchez). Consultável: http://www.tamborileros.com
The Taborers Society (Web-Site). Consultável em: http://pipeandtaborfestival.wordpress.com/
Asociación Cultural de Tamborileros Norte de Extremadura Santiago Béjar. Consultável em: http://www.tamborileros.net/index.htm
Pasado, Presente y Futuro de la Faluta y el Tamboril en Castilla y Léon”. Consultável en: http://musicatradicional.net/pasado-presente-y-futuro-de-la-flauta-y-el-tamboril-en-castilla-y-leon/
“La vida y al habla en la gaita y el tamboril Salmantino” (Valladoli). Consultável em http://www.funjdiaz.net/folklore/07ficha.php?ID=338
“Santiago Béjar. El hijo del tamborilero”. Consultável em: http://descargas.nuestramusica.es/santiago_bejar.pdf
Iniciación a la práctica instrumental. Consultável em: http://www.tamborileros.com/pdf/tamboril%20y%20flauta%20-%20iniciacion%20a%20la%20practica%20instrumental.pdf
“El tamborilero. Hablan la flauta y el tamboril”. Consultável em: http://www.vivirextremadura.es/el-tamborilero-hablan-la-flauta-y-el-tamboril/
“La Flauta y tamboril en el noreste de Portugal” (Gwilym Davies, 2010). Consultável em: http://www.pipeandtabor.org/the-pipe-and-tabor/pipe-and-tabor-worldwide/pipe-and-tabor-traditions-in-ne-portugal/la-flauta-y-tamboril-en-el-noreste-de-portugal/
Arquivo Sonoro Ernesto Veiga de Oliveira (1961). Consultável em: http://alfarrabio.di.uminho.pt/arqevo/
“Os tamborileiros do Baixo Alentejo” – série documental: O Povo que Canta 6.º programa. Consultável em: http://www.michelgiacometti.com/pdf/volume_2.pdf
Projecto Tocar de Ouvido promovido pela Associação Portuguesa para o Estudo e Divulgação da Gaita-de-foles em 2007 (tamborileiros). Consultável em: http://www.gaitadefoles.pt/tocardeouvido/2007/flautatamborileiro.htm
“Flauta e tamboril nordestinos vão ser padronizados” (Dez. 2013). Consultável em: http://www.publico.pt/local-porto/jornal/flauta-e-tamboril-nordestinos-vao-ser-padronizados-27596891
“Al son de la Escuela de Tamborileros”. Consultável em: http://www.huelvainformacion.es/article/huelva/1454384/son/la/escuela/tamborileros.html
Hermandad de Huelva (Músicas). Consultável em: http://www.hermandaddehuelva.com/?page_id=1066

“I Encuentro de Tamborileros de la Hermandad del Rocío de Huelva”. Consultável em: http://www.rocio.com/index.php?contenido=2765
Escuela de Tamborileros “Hermandad de Ntra. Sra. del Rocío de Dos Hermanas”. Consultável em: http://www.rociodoshermanas.es/index.php?option=com_content&view=article&id=242%3Aescuela-de-tamborileros-qhermandad-de-ntra-sra-del-rocio-de-dos-hermanas&Itemid=92

 

 

 

Cortegana, de la naciente del río Chanza hasta la Romería de San Antonio

Cortegana es un municipio español de la provincia de Huelva, en la Sierra de Aracena (Andalucía). Tiene una extensión de 174 km², y en 2010 contaba con 4.939 habitantes. Los historiadores locales dicen que Cortegana fue fundada por los turdetanos, y que en la loma que une los cerros del Castillo y Santa Bárbara se asentó la Corticata romana. Tras ser conquistada a los árabes por la Orden Hospitalaria, fue portuguesa e cambiaría de manos sucesivas veces en el conflicto del Algarve, al que el Tratado de Badajoz puso fin. En la villa nace el río Chanza, en la calle del mismo nombre, que recorre los términos de Aroche y Rosal de la Frontera, delimita la frontera  hispano-portuguesa, y va ofrecer sus aguas al río Guadiana. Cortegana ha estado ligada a la agricultura y a la ganadería, pero da industria del corcho fue de gran importancia para el desarrollo de la economía hasta los años 30. La industria proporcionó la creación de una clase de obreros politizados, fundadores de la Sociedad Gran Casino. La autoría del edificio corresponde al arquitecto de referencia en toda la provincia de Huelva, José María Pérez Carasa, y Arcadio Cantos Marín fue el fundador de la Sociedad. En la artesanía local encontramos una diversidad de artes como la orfebrería, los encajes de bolillos, los bordados, la cerámica, antiguos talleres de forja, que atestan el pasado de una comarca prospera, que fue destruida por la represión franquista en la guerra civil (1936-1939). En la actualidad es la industria del cerdo ibérico que se ha desarrollado en Cortegana, con productos exportados a todo el mundo, e el turismo también juega un papel importante en la economía local. Las fiestas religiosas son la Semana Santa, la Romería de San Antonio de Padua y en septiembre las fiestas patronales en honor de Nuestra Señora de la Piedad. En agosto se celebran las Jornadas Medievales en Cortegana, que están integradas en una red de municipios, con Serpa y Castro Marim (Portugal). El Castillo sirve de escenario principal, donde todo el pueblo se traslada a la época medieval; unos días en los que doncellas y juglares recorren las calles de la localidad. Para más información visita http://www.medievalescortegana.org.

   Sociedad Gran Casino

Naciente del río Chanza    Sociedad Gran Casino

La Romería en honor a San Antonio de Padua es la fiesta religiosa-popular más importante, y se celebró en los días 14 y 15 de junio. Aunque no exista documentación relativa a la primera romería de Cortegana, podemos afirmar que fue en el año de 1946 que el reverendo D. Amadeo Piña Mateos, reuniéndose con diferentes vecinos, acordaron inventar una romería. La primera reunión tuvo lugar en el bar de Juan Esteban Ruiz Capitán y estaba D. Ezequiel Mozo Bravo, Notario, nacido en Alamillo (Ciudad Real) lugar de donde San Antonio de Padua era su patrón. En una reunión acordaron que teniendo en cuenta que en las iglesias de Cortegana se encontraban imagines de San Antonio de Padua y que la fecha de su onomástica no coincidía con ninguna festividad de los pueblos cercanos, San Antonio seria el patrón de la romería. Solucionada la fecha y el patrón, solo faltaba un lugar donde la celebrar, que no podía ser muy apartado del pueblo, tenía de tener agua, ser sombreado y tener una ermita. Así, la aldea de La Corte, a 6 Km de Cortegana cumplía los requisitos ideales para celebrar la romería. En la semana precedente a la Romería, se celebra el Pregón en la carpa instalada por el Ayuntamiento de Cortegana en la Plaza del Prado. En los días 11, 12 y 13 se celebrarán los tradicionales Triduos en honor a San Antonio, en la Iglesia Parroquial del Divino Salvador. Por la tarde del día 13 oímos los tambores e las flautas de Félix y Samuel, de Almonaster la Real, tocando en la Plaza del Divino Salvador. En la Iglesia, los niños recibían la medalla de San Antonio, en un ritual de integración. A la finalización del Triduo, por la noche, se procedió al Traslado del Estandarte a la Ermita del Calvario.

(…)
San Antonio tu medalla
La tengo en mi cabecera
Para no sentirme solo
De mi sueño es compañera
(…)

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En la mañana de 14 de junio, en la Capilla del Calvario, se reunirán cientos de caballistas, carrozas y romeros para iniciaren el camino hasta La Corte. En la salida oímos los tamborileros Félix y su aluno Samuel, de Almonaster la Real, tocando “Salve Rocinera”, e el “El camino”. Para el antropólogo Salvador Rodríguez Becerra: “La Iglesia ha pensado algunas veces que la religiosidad popular era algo con lo que había que convivir, pero que era ignorante y estaba equivocada y que con el tiempo y una caña (…) El pueblo acude a lo sagrado cuando lo necesita, para pedir y, por supuesto, ofrecer algo a cambio… Son relaciones muy parecidas a las humanas. En Andalucía la gente es muy devota, pero no fieles dispuestos a obedecer, la promesa es lo que caracteriza a la religiosidad popular”. Ver más de la entrevista, “Tener una imagen de devoción popular es una importante fuente de ingresos”, en: http://www.diariodesevilla.es/article/sevilla/1770310/tener/una/imagen/devocion/popular/es/una/importante/fuente/ingresos.html

 

El camino hasta La Corte se hace en carrozas, a caballo, o a pie, de acordó con las posibilidades económicas y las promesas de cada uno. En las carrozas cantase sevillanas y fandangos, en una profunda exaltación lúdica. La romería es un tiempo de fiesta, de compartir comida y bebida, de reencuentro de amigos. El camino tiene dos parajes, una en “El Molino”, otra en “El Palomar”, adonde se canta y baila. Todavía, para algunos, hay un primer paraje para evocar un amigo que partió.

(…)
Tiene mi pueblo un camino
Donde expresa su alegría
Con San Antonio Divino
Cuando va de romería
(…)

 

Coplas de Rafael Vázquez “Campuzano” 2014

 

Romería de San Mamés, una devoción popular transfronteriza en Aroche (Huelva)

El culto a San Mamés en la Península Ibérica es muy antiguo, y muy difundido en los signos XI, XII y XIII, principalmente en las zonas donde el pastoreo de ganado bovino y ovino era más intenso. La advocación a este santo es muy común en Portugal, Asturias, Cantabria, Castilla-León, Aragón o La Rioja, donde no sólo hay localidades con esta denominación sino también numerosas iglesias, ermitas, romerías y ferias. La construcción de la ermita de San Mamés en Aroche coincide con la venida de los ganados del Real y Honrado concejo de la Mesta, siglo XIII, “y es comprensible que un lugar tan inhóspito los pastores necesitaran un espacio donde dirigir sus oraciones pidiendo protección para su personas y ganados” (Rodríguez Guillén, 2004: 170). La Mesta era una asociación de ganaderos que regulaba la trashumancia de ganado, y estaba controlada por la nobleza castellana. La lana era el principal producto de exportación que se dirigía a Flandes (Bélgica y Holanda). “Los desplazamientos y estancias hicieron que los pastores mesteños dejaran a los arochenos como herencia parte de sus costumbres y tradiciones, como fue el caso de la veneración a santos norteños, uno de los cuales, San Mamés, se ha convertido con el tiempo en patrón de Aroche. Esta forma de vida les llevó a elegir una iconografía próxima al mundo ganadero, pues al Santo arocheno además del misal le acompañan un cayado de pastor. Dentro de la dehesa de propios de Cortedelana, cercana al cerro de La Charneca, construyeron una ermita en honor a San Mamés, quedando hoy solamente sus ruinas. Era una edificación pequeña, de tradición románica, construida con materiales de los alrededores, de una sola nave y abside, cubriéndose con la característica teja árabe” (Félix Soria , inédito). Antonio Rodríguez Guillén (2003) afirma que “a mediados del siglo XVII, en 1621, era visitada por Rodrigo Caro, que dice que estaba “situada en el actual término de Rosal de la Frontera, próxima a la de San Isidro, en lo alto de un cerro conocido documentalmente como “Llano del Cabezo”. (…) Entre 1725 y 1728 se realizaron obras pidiendo dinero en las villas de Aroche y Santa Bárbara y en la portuguesa de Serpa, donde la devoción al Santo era grande. En el 13 de Julio de 1749 Don Francisco de Melo (Conde de Ficalho), dona 3000 ladrillos y 20 cahices de cal, para la restauración que se está realizando, y es una prueba de la devoción que se le tiene al Santo al otro lado de la frontera” (2004: 172). La fiesta duraba tres días y se celebraba por la Pascua de Pentecostés, teniendo un ámbito transfronterizo al reunir a los vecinos de poblaciones como Aroche, Santa Bárbara de Casa, Cabezas Rubias, Rosal de la Frontera y Vila Verde de Ficalho. “A la solemne misa le seguía la procesión por los alrededores de la ermita de una imagen de San Mamés de estilo románico y actividades lúdicas como la comida de hermandad, bailes de danzas, mascaradas, fuegos artificiales y capeas de toros” (en Félix Sancha Soria: “90 años de la Hermandad de San Mamés”).

Las romerías son rituales festivos celebrados en lugares rústicos cuyo potencial performativo se manifiesta mediante rituales y símbolos. “Como otros tipos de fiestas, desempeñan funciones religiosas y lúdicas, pero también cívicas o políticas, ya que suscitan sentimientos de pertenencia e identidad grupal, local y nacional” (Homobono Martínez 2012: 43). La romería de San Mamés es una peregrinación a la ermita, alejada del pueblo, una fiesta en el doble sentido litúrgico y festivo, de conmemoración religiosa y de reencuentro anual propicio para la celebración lúdica, turística y participativa; cuyas tres referencias fundamentales son los lugares de origen de los romeros; el camino, que requiere varias horas de viaje a pie y la ermita, así como la relación mágicoreligiosa con el Santo, de exaltación de la comunidad aronchera. La ermita, situada en la periferia del territorio comunitario, es el polo alternativo del universo sagrado popular: “representa una religiosidad no institucional ni jerarquizada, que suscita la desconfianza de la autoridad eclesiástica”. Es en torno a ermitas y santuarios, donde se conservan con mayor vigencia las creencias populares y tiene lugar todo un sistema de rituales colectivos. Las romerías suscitan sentimientos de pertenencia e identidad cultural, funcionando como una construcción memorial e identitaria de la comunidad local rural y de otras lealtades más amplias (comarca, región y/o nación). Los rituales festivos son intrínsecamente polisémicos, y comprenden una pluralidad de significados no siempre iguales para todos los participantes, todavía las secuencias rituales y festivas que se suceden durante una romería no varían significativamente: subida, llegada, actos devocionales, liturgia, procesión, comensalismo, música y baile.

En las romerías la música tradicional posee una consistencia performativa intuitiva, cuando sus ejecutantes poseen una gramática e un sistema musical interiorizados que transmiten por medio de prácticas sociales. Es imposible disociar la música de la dimensión ritual de las romerías, especialmente significante en los procesos de producción e experiencia musical tradicional. Cualquier performance musical es un evento integrado y padronizado de un sistema de interacciones sociales, cuyo significado no puede ser entendido o analizado separado de las restantes componentes del sistema cultural (Blacking 1995: 226-227). La romería de San Mamés se ha convertido en un referente identitário, donde se ha reafirmado el sentido de comunidad de los arochenos y demostrado la hospitalidad para con los vecinos y forasteros. Todavía, los rituales estético-musicales, con grupos de tamborileros y de flamenco, siguen cada vez más el modelo institucionalizado y patrimonializado de la Romería de Rocío.

 

Referencias bibliograficas:
Blacking, John. 1995. “Music, Culture and Experience”, in Music, Culture & Experience, Chicago, University of Chicago Press, pp. 223-242

Homobono Martínez, José Ignacio. 2012. “Dimensiones nacionalitarias de las fiestas populares: lugares, símbolos y rituales políticos en las romerías vascas”, Zainak. 35: 43-95.

Rodríguez Guillén, Antonio. 2004, “La Mesta y el Gallego”, XVIII Jornadas del Patrimonio de la Comarca de la Sierra de Huelva, Diputación Provincial, Rosal de la Frontera, 153-189: http://www.federacionsierra.es/media/documentos/doc105.pdf

Sancha Soria, Félix (inédito) “La Mesta, El Gallego y la ermita de San Mamés”, en Historia de Aroche.

Félix Sancha Soria (2013) “90 años de la Hermandad de San Mamés”: http://www.huelvainformacion.es/article/opinion/1527107/anos/la/hermandad/san/mames.html

Talego Vázquez, Félix. 2003. “Significados simbólicos de las principales fiestas de Aroche”, VII Jornadas del Patrimonio de la Sierra de Huelva, Diputación Provincial, Rosal de la Frontera, 49-84: http://www.federacionsierra.es/media/documentos/doc337.pdf

 

Una romería transfronteriza en Rosal de la Frontera (Huelva)

Las relaciones en la frontera hispano-portuguesa fueran construidas al largo del proceso histórico, ancladas en interdependencias económicas, relaciones de parentesco y de amistad. En un catalogo turístico de la Junta de Andalucía podemos leer: “el carácter fronterizo de Rosal de la Frontera ha posibilitado una cierta identidad social y cultural con Portugal, cuya influencia se puede palpar en cada uno de los rincones de este tranquilo municipio”. En la actualidad, las relaciones fronterizas son mantenidas y re-significadas “desde arriba”, por intervención del poder político (local y supralocal), y “desde abajo”, por la interacción social entre las populaciones rayanas. En una zona rural desertificada de personas, las festividades y prácticas rituales fortalecen simbólicamente la continuidad de las relaciones entre los pueblos de Rosal e Vila Verde de Ficalho. La Romería de San Isidro Labrador, la más importante fiesta celebrada en Rosal de la Frontera, es una romería de carácter transfronterizo, invitando a la participación de la Comisión de Fiestas de Nuestra Señora das Pazes, de Vila Verde de Ficalho. Las relaciones entre los dos santos reflejan, simbólicamente, las relaciones de amistad entre dos pueblos vecinos, justificadas en diversas narrativas.

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Romería transfronteriza – Romería San Isidro El Labrador (2014)

El santo patrón, San Isidro, cuyo nombre era Isidro de Merlo y Quintana, nació en torno al 1082 en Madrid, durante el reinado de Alfonso VI, y falleció en el año 1130. Sus padres eran de clase humilde, y una de las primeras ocupaciones de Isidro fue la de pocero, o sea, cavar pozos, al servicio de la familia Vera, hasta que se trasladó a trabajar a Torrelaguna, donde contrajo matrimonio con María Toribia. Fruto de su matrimonio tuvieron un hijo llamado Illán. Al cabo de unos años la familia regresó a Madrid, para cuidar las tierras de la familia Vargas. En ese momento, cuando Isidro realizó las tareas de labrador, pasa a ser conocido popularmente como “Isidro labrador”. Las narrativas populares dicen que la providencia hacía que su cosecha siempre fuera muy grande, y que compartía lo que tenía con los hombres, las aves y otros animales. Debido a su labor, se le considera patrono de los que trabajan la tierra, siendo venerado en varios pueblos de España y América latina, con procesiones en las que se bendicen los campos. En Andalucía, Extremadura y Castilla-La Mancha se hacen romerías en honor al Santo, acompañado de carretas, caballos, carrozas y muchos romeros, como en Rosal de la Frontera. La fiesta, con sus rituales refuerza la identidad cultural de los rosaleños, siendo transmitida a las generaciones futuras.

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El sábado 17 de mayo los tamborileros “Los Bravo” condujeron la alegre diana por las calles rosaleñas, la Hermandad y los Mayordomos entrantes, los Hermanos “Charca. Posteriormente la Comisión de Fiestas de Nuestra Señora Das Paces y San Jorge (Vila Verde de Ficalho) fue recibida junto a la frontera, invitada a integrar el proceso ritual de la fiesta. En la iglesia, el Coro Romero dedicó un canto a la unión entre los dos pueblos, y en la calle se hicieron muchas saludaciones a los dos santos. La romería se celebra junto a la ribera del Alcalaboza, a unos ocho kilómetros del pueblo de Rosal, en dirección a Huelva. Allí se encuentra la Ermita de San Isidro y las casetas arregladas de acuerdo con la condición social de sus propietarios. La romería está integrada en el Plan Romero de la Junta de Andalucía, que garantiza la seguridad y el control del tráfico en la carretera. El programa de fiestas del domingo 18 de mayo, empezó con la Diana Romera interpretada por los tamborileros “Los Bravo”. Tras la misa romera, oficiada por el párroco polaco Tomász Paluch, y cantada por el Coro Romero, los Mayordomos, conocidos cariñosamente en el pueblo como “Los Charcas”: Manuel, Gloria, Mª Luisa y Carmen Romero, ofrecieron una comida a todos los participantes y visitantes, en la Casa de la Hermandad. Por la tarde, en torno a las 20.00 horas, se realizó la procesión sin párroco, del Santo Rosario en el recinto, con ofrendas florales y cantares a San Isidro. La romería proporciona un espacio e un tiempo de expresión y exaltación cultural, de reencuentro, compartido con familiares y amigos. La música y la danza están presentes en todos los rituales de la fiesta, y emergen con espontaneidad en el proceso de interacción social. Las voces del Coro Romero San Isidro acompañan la celebración de rituales religiosos. Los tamborileros conducen los desfiles ceremoniales, pero también están presentes en los momentos más lúdicos de la fiesta. Las dinámicas musicales de las gentes de todas las edades, añaden al ambiente festivo con sus tambores, cañas, panderetas, el cuerpo y la voz, cantando y bailando fandangos y sevillanas.

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El cante y el baile – Romería de San Isidro El Labrador (2014)

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Más allá del programa religioso-popular de la romería, fuimos testigos de un baptismo, en la ribera del Alcalaboza, muy característico de la romería de Rocío. En este ceremonial, paródico, Juan Antonio Fuentes, nacido en Huelva en 1962, fue simbólicamente integrado en la comunidad romera rosaleña, a que pertenece su mujer, María Isabel. El matrimonio tiene dos hijas, y viven en Huelva, aunque Isabel conserve su casa en Rosal. Las fiestas sirven para la reunión familiar, para compartir identidades e momentos lúdicos, repletos de afectos y significados.

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Baptismo en la Romería de San Isidro El Labrador (2014)

 

O tamborileiro em Vila Verde de Ficalho (Baixo Alentejo)

O tamborileiro existe desde tempos remotos, nos mais diversos países e regiões. A sua função festiva perdura  em várias zonas da Espanha (Extremadura e Andalucía) e da França. Em Portugal, o tamborileiro permanece em duas zonas fronteiriças distintas: nas aldeias raianas do distrito de Miranda do Douro (Trás-os-Montes) e do distrito de Beja (Baixo Alentejo). O tamboril e a flauta, tocados pelo tamborileiro, formam um conjunto instrumental unitário e coerente, bastante raro na década de 60, quando Ernesto Veiga de Oliveira e Benjamim Pereira organizaram a colecção de instrumentos populares portugueses. No trabalho de pesquisa encontraram tamborileiros nas aldeias raianas de Terras de Miranda, com funções de carácter cerimonial, profanas e lúdicas, e nas aldeias raianas do Baixo Alentejo, com funções cerimoniais em festas religiosas patronais e ritualizadas (em Instrumentos Musicais Populares Portugueses, p.259). Na década de 70 Michel Giacometti revisitou os tamborileiros alentejanos de Vila Verde de Ficalho, Santo Aleixo da Restauração e Barrancos, anotando: “o tamborileiro pode ser definido como um instrumentista popular que toca simultaneamente um tamboril e uma flauta, estando a melodia a cargo da flauta e sendo o acompanhamento executado no tamboril com uma única baqueta” (guião do documentário “O Povo que Canta” 6.º episódio, dedicado aos tamborileiros do Baixo Alentejo, emitido na RTP a 18 de Outubro de 1971 (em http://www.michelgiacometti.com/pdf/volume_2.pdf).

Em Vila Verde de Ficalho  o tamborileiro participa no peditório para a Festa da Senhora das Pazes, a 15 de Agosto, acompanhando os Festeiros que transportam o Guião, percorrendo as ruas da vila.

tamborileiro de Ficalho, 2013 peditório de santa Maria

No dia da festa, pela manhã, o tamborileiro tocava a “Alvorada”, alternando o seu toque com a música da banda filarmónica convidada para abrilhantar as festividades. De tarde, o tamborileiro acompanhava a procissão ao lado do Guião e atrás da cruz. Na obra Monografia de Vila Verde de Ficalho, Francisco Valente Machado escreveu: “o tamboril, de som monótono mas bem conhecido, era tocado, simultaneamente com a respectiva gaita, por ocasião da Festa das Pazes, ao acompanhar o guião nas cerimónias, como nos momentos em que ele parecia em público durante os peditórios que todos os anos se fazem a favor da mesma festa. Deixou fama, como tamborileiro, o velho Lança a quem sucedeu o seu filho, César Lança, que também foi bom, mas sem ter igualado os merecimentos paternos neste domínio” (p. 288).  Em Ficalho o tamborileiro tinha uma função cerimonial e lúdica, como testemunham os temas musicais “Alvorada”, “Procissão” e “Corridinho” gravados em 1961. Cada tema correspondia a diferentes momentos da sua participação na Festa, com  uma fórmula ritual diferenciada da música tradicional da região. Nos arquivos sonoros de Ernesto Veiga de Oliveira, Benjamim Pereira (em: http://alfarrabio.di.uminho.pt/arqevo/arqetnoevo.html), encontramos registos destes temas interpretados pelos tamborileiros Romão Estadas e Manuel José Celeiro, gravados na Festa da Senhora das Pazes de 1961.

O tamborileiro em Vila Verde de Ficalho perdeu algumas funções rituais, mas continua a acompanhar o Guião da Senhora das Pazes e S. Jorge no peditório, e no agradecimento dos Santos à população, assinalando o início das festividades no fim-de-semana de Pascoela.

O tamborileiro de 2014 foi o festeiro Francisco Galhoz, nascido em Santo Aleixo da Restauração em 1969. Na infância acompanhava o ritual do tamborileiro de Santo Aleixo, que incorporou como prática musical e performativa. Em 1991 fixou-se em Vila Verde de Ficalho, terra natal da mãe, e aí casou e construiu a sua vida. Ao longo dos anos desempenhou diversas atividades, atualmente é barbeiro de profissão e faz parte do Grupo Coral “Os Arraianos de Ficalho”. Como membro de diversas comissões de festas assumiu a função de tamborileiro, de improviso, realizando um sonho de criança. Os mais idosos recordam os atributos dos antigos tamborileiros, e não reconhecem qualidades nos jovens que, de forma espontânea, asseguram a continuidade de uma prática ritual com significado.