PERSPECTIVAS TEÓRICAS

Os estudos realizados na fronteira luso-espanhola, em diferentes áreas das ciências sociais, deixam bem claro que as “fronteiras da cultura” competem e subvertem as “fronteiras da política” (Wilson e Donnan, 1998:11), e como a tensão entre a lógica estatal/local contribuiu para a construção de interdependências transfronteiriças. Com o processo de europeização e redefinição de fronteiras assiste-se a um conjunto de perdas simbólicas e culturais na vida das populações raianas que exige a resignificação do local, justificando os processos de emblematização e patrimonialização resgatados das práticas culturais locais. A partir da década de 90 a patrimonialização de práticas culturais, preconizado por agentes locais e translocais, inventores da tradição, transforma-se em capital simbólico (Bourdieu 1989). Num movimento de folclorização e revivificação da música tradicional (desde baixo), as práticas musicais configuram-se em ícones identitários, associando géneros musicais e instrumentos a identidades locais ou regionais (exemplo do cavaquinho ou da gaita-de-fole mirandesa no Minho e Trás-os-Montes, respectivamente). As modas polifónicas representam um exemplo paradigmático de folclorização, resistindo como género emblemático do Baixo Alentejo desde o Estado Novo (Castelo-Branco, passin). A candidatura do Cante Alentejano a Património Imaterial da Humanidade, envolvendo investigadores, agentes locais e translocais (autarquias, associações e grupos musicais), atesta a dinâmica dos agentes na construção do património musical, recriado e resignificado em função de motivações políticas e interacções com o mundo global. Contudo, existiam outros géneros musicais e performativos na região, até à década de 1960 (período de acentuados fluxos migratórios para as periferias de Lisboa, e para o estrangeiro), como o cerimonial do tamborileiro nas festas patronais, as zambombas no Natal, os chocalheiros na Aleluia, as canções-dançadas no contexto de bailes, romarias e outras festas populares (Barriga, 2003: 6-11). Com este projecto pretendemos contribuir para o conhecimento das práticas musicais e performativas nas zonas raianas, entendidas como lugares de encontro e criatividade (Simonett 2001, cit. em Stokes 2004:48), questionando de que forma os agentes e as populações locais estabelecem e desenvolvem relações musicais através da fronteira, renovando, especialmente em momentos festivos e comemorativos, profundas e duradouras continuidades culturais. Ao longo do projecto entrelaçamos contribuições teóricas provenientes de diversas áreas disciplinares, como a etnomusicologia, a antropologia e a história, focalizadas em estudos musicais, na memória e construção de identidades (cf. Halbwachs, 1950; Blacking, 1995; Tomlinson, 1999; Labanyi, 2002; Bohlman, 2004; Stokes 2004; Nettl, 2005), e na extensa bibliografia sobre fronteiras resgatada do nosso anterior projecto. No mesmo sentido em que as teorias e as terminologias relacionadas com a representação, a mercantilização da cultura (Adorno, 2003) e a invenção da tradição (Hobsbawm & Ranger, passin), permitem questionar a natureza política dos actuais processos de patrimonialização e folclorização (cf. Martí i Pérez, 1996; Castelo-Branco & Branco, 2003), partindo da análise do seu conteúdo ideológico e simbólico. Como propõe John Rowe, o significado das “políticas culturais” não deve ser procurado num método particular, mas na intersecção destas actividades com políticas comprometidas com a desmistificação dos domínios separados da política, da economia, da educação e do activismo (http://hdl.handle.net/2027/spo.10945585.0001.001). Os conceitos de cultura e poder servem para pensar as festas e os processos patrimonializantes, como movimentos contra-hegemónicos, de resistência a uma “homogeneização cultural global” (Tomlinson, 1999).

Estudantinas na Amareleja (Baixo Alentejo), Março de 2014

Estudantinas na Amareleja (Baixo Alentejo), Março de 2014

Los estudios desarrollados en la frontera hispano-portuguesa, en diferentes áreas de las ciencias sociales, dejan bien claro que, primero, “las fronteras de la cultura” pueden competir y subvertir “las fronteras de la política” (Wilson y Donnan, 1998:11), y segundo, que la tensión entre la lógica estado/local ha contribuido a la construcción de las interdependencias transfronterizas. Con el proceso de europeización y redefinición de las fronteras hay un conjunto de pérdidas simbólicas y culturales en la vida de las poblaciones rayanas que requieren la resignificación del espacio local, justificando los procesos de emblematización y de patrimonialización rescatados de las prácticas culturales locales. A partir de la década de 90 la patrimonialización de las prácticas culturales, preconizadas por los actores locales y translocales, inventores de la tradición, se convierten en “capital simbólico” (Bourdieu 1989). En un movimiento de folklorización y renacimiento de la música tradicional (desde abajo), algunas prácticas musicales se transforman en iconos identitarios, asociando géneros musicales e instrumentos a identidades locales o regionales (ejemplo del cavaquinho o de la gaita mirandesa en Minho y Trás-os-Montes, respectivamente). Las canciones polifónicas representan un ejemplo paradigmático de folklorización, resistiendo como un género musical emblemático del Bajo Alentejo desde el Estado Novo (Castelo-Branco, passin). La solicitud del Cante Alentejano como Patrimonio Inmaterial de la Humanidad, que articula investigadores y empresarios locales y translocales (ayuntamientos, asociaciones y grupos musicales), pone de manifiesto la dinámica de los actores en la construcción del patrimonio musical, reconstruido y resignificado en función de motivaciones político-económicas e interacciones con el mundo global. Sin embargo, se destaca la presencia de otros géneros musicales y performativos en la región, hasta el 1960 (periodo de flujos migratorios hacia las periferias de Lisboa y al extranjero), como el cerimonial del tamborilero, las zambombas en la Navidad, los locajos en la Aleluia, las canciones-bailadas en el contexto de bailes, romerías y otras fiestas populares (Barriga, 2003: 6-11). Con este proyecto se pretende contribuir al conocimiento de la cultura expresiva en las zonas fronterizas, entendidas como lugares de encuentro y creatividad (Simonett, cit. en Stokes, 2004:48), analizando de qué manera las clases subordinadas intervienen en las relaciones musicales y en las redes a través de la frontera, reiterando, especialmente en momentos de fiestas y celebración, profundas y duraderas continuidades histórico-culturales. A lo largo del proyecto entrelazamos aportes teóricos de diversas disciplinas, como la etnomusicología, la antropología y la historia, relacionados con los estudios musicales, la memoria y a la construcción de identidades (cf. Halbwachs, 1950; Blacking, 1995; Tomlinson, 1999; Labanyi, 2002; Bohlman, 2004; Stokes 2004; Nettl, 2005). Sin embargo, las teorías relacionadas con la representación, la mercantilización de la cultura (Adorno, 2003) y la invención de la tradición (Hobsbawm & Ranger, passin) sirven también para cuestionar el carácter político de los procesos actuales de patrimonialización y folklorización (cf. Martí i Pérez, 1996; Castelo-Branco & Branco, 2003), a partir del análisis de su contenido ideológico y simbólico. La propuesta de John Rowe, apunta a que el significado de las “políticas culturales” no debe ser buscado en un método en particular, sino en la intersección de estas actividades con las políticas comprometidas en la desmitificación de los dominios separados de la política, economía, educación y activismo (http://hdl.handle.net/2027/spo.10945585.0001.001). Los conceptos de cultura y poder servirán para pensar los procesos de patrimonialización, en movimientos contra-hegemónicos, que  resistien a una “homogeneización cultural global” (Tomlinson, 1999).

 

 

Deixe um comentário