Lugares, pessoas e práticas musicais na raia luso-espanhola

A zona fronteiriça do Baixo Alentejo /Extremadura / Andaluzia caracteriza-se pela baixa densidade populacional e o acentuado índice de envelhecimento (Resumen del Diagnóstico Socioeconómico de la zona de Cooperación, 2013: 1). Os municípios são os principais empregadores e debatem-se com problemas estruturais, como o desemprego e a desertificação, e reinventam-se por meio de atributos identitários e novas festas. A etnografia mostra-nos que as festividades e as atividades musicais financiadas pelos municípios estão direcionadas para a cooperação e a inclusão social, como estratégia de atração turística ao serviço da qualidade de vida das populações.

       

Em contextos rurais envelhecidos e economicamente desarticulados o potencial da música como recurso cultural sustentável é fundamental ao desenvolvimento humano (Turino 2009), porque não só as pessoas sustêm a música, como a música sustem as pessoas, como assinala Titon (2009: 14). Consequentemente, a transmissão da herança cultural  implica a criação de modelos participativos, através de uma ação consertada entre os agentes culturais e os membros da comunidade, a fim de desenvolverem atividades que aspiram a um futuro possível. Na linha proposta por Titon (2009a: 129), para salvaguardar as práticas de música e dança o mais importante é promover as condições de hábitat em que as pessoas podem continuar a fazer música de diversos tipos, de distintas formas e modos, e por múltiplas razões. Neste sentido a cultura expressiva na fronteira luso-espanhola não pode ser observada numa perspetiva macro de movimentos musicais transnacionais que a cruzam, sob pena de obscurecer e perturbar o conhecimento de um processo cultural que implica a interação entre as pessoas e os lugares, assim como o entendimento de práticas culturais que reconstroem um passado comum, ritual e convivencial.

 

Resumen del Diagnóstico Socioeconómico de la Zona de Cooperación 2013. Programa de Cooperación Transfronteriza España-Portugal 2014-2020. http://www.poctep.eu/sites/default/files/documentos/1420/Resumen_Diagnostico_14_10_13_ES.pdf

Titon, Jeff Todd. 2009a. “Music and Sustainability: An Ecological Viewpoint”. The World of Music 51, (1): 119-137.

– 2009. “Economy, Ecology and Music: an Introduction”. The World of Music 51, (1): 5-15.

 

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